Bienal do Livro de São Paulo aposta na diversidade para furar bolhas culturais

Redação Culturize-se

Bienal do Livro de São Paulo

A 27ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo é um evento que une a diversidade literária e cultural, oferecendo um amplo espectro de gêneros, autores e temas que dialogam com diferentes públicos. Ao longo de seus dias, o evento, que ocorre no Distrito Anhembi, apresenta uma programação que vai desde o pop até a literatura religiosa e espiritual, demonstrando a pluralidade que define a Bienal.

A inclusão da ficção cristã na Bienal deste ano reflete uma mudança significativa no cenário literário brasileiro. Sara Gusella, autora de “Os clãs da Lua”, uma releitura do Êxodo ambientada no espaço, celebra essa pluralidade, destacando que, assim como nas Escrituras, “os humilhados serão exaltados”. A literatura cristã, muitas vezes marginalizada, agora encontra seu espaço ao lado de outras manifestações religiosas, como os debates sobre religiões afro-brasileiras com autores como Conceição Evaristo e Itamar Vieira Junior. Este é um exemplo claro de como a Bienal busca contemplar todas as formas de fé e espiritualidade, ampliando o leque de temas literários.

Essa diversidade se reflete também nas mesas de debates, onde figuras como o padre Júlio Lancellotti e o pastor Kléber Lucas discutem a intolerância religiosa, promovendo um espaço de diálogo e respeito mútuo. Esses debates se tornam especialmente relevantes em um país como o Brasil, onde a pluralidade religiosa é uma característica marcante. A inclusão desses temas na programação da Bienal é um indicativo de que a literatura pode ser um caminho para promover a compreensão e a convivência entre diferentes crenças.

A diversidade de gêneros e temas não se limita à literatura religiosa. A Bienal deste ano busca atrair um público variado, com mesas sobre ficção científica, literatura erótica, romances policiais, e até mesmo ficção climática. O evento abraça diferentes tendências literárias, tornando-se um verdadeiro ponto de encontro para todos os tipos de leitores. Autores de renome, como John Scalzi, que participa de uma mesa sobre ficção científica, e autores mais voltados para o público jovem, como Igor Pires, autor de “Textos Cruéis para Serem Lidos Rapidamente”, são exemplos de como o evento se preocupa em atrair diferentes perfis de leitores.

Além disso, a presença de autores estrangeiros e nacionais reforça o caráter global do evento. Com mais de 700 escritores confirmados, incluindo nomes como Jeff Kinney, autor do best-seller “Diário de um Banana”, e a canadense Carley Fortune, o evento se torna um verdadeiro intercâmbio cultural. O país homenageado desta edição é a Colômbia, que envia autores como Margarita García Robayo, consolidando a Bienal como um espaço de diálogo entre culturas e línguas diferentes.

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Impacto no mercado literário

A Bienal também se destaca como um evento estratégico para o mercado editorial. Editoras como a Globo Livros e a Sextante apostam no evento para lançar novos títulos e estabelecer contato direto com os leitores. O espaço ampliado, com 75 mil metros quadrados, permite que expositores montem estandes maiores e mais elaborados, criando uma experiência mais imersiva para o público. Há estandes mais “instagramáveis”, refletindo a importância das redes sociais e da criação de conteúdo visual na experiência do leitor contemporâneo.

O aumento no investimento das editoras se justifica pelo sucesso da edição anterior, que superou expectativas e trouxe um público recorde. A expectativa para este ano é que a Bienal repita o feito, consolidando-se como um dos principais eventos literários da América Latina. A diversificação da programação é um dos fatores que contribui para esse crescimento. Como afirma Marcos da Veiga Pereira, da Sextante, “uma bienal que é só pop é um risco”, e é por isso que a programação plural é essencial para o sucesso do evento.

Tateando reflexões

A Bienal também se destaca por trazer à tona discussões sobre o papel da literatura na crítica social. Um exemplo disso é a presença do neurocientista Miguel Nicolelis, que lança seu primeiro romance de ficção científica, “Nada Mais Será Como Antes”. A obra, que aborda temas como a extinção humana e os limites da mente humana em um mundo dominado pela lógica digital, é um convite à reflexão sobre o futuro da humanidade. Em uma mesa sobre “A literatura e o mundo em colapso”, Nicolelis e Morgana Kretzmann discutem como a literatura pode ser um espelho das crises ambientais e sociais que enfrentamos.

Esse aspecto reflexivo da literatura também aparece na obra “Santa ou Puta?”, de Maria Luiza Wiederkehr, que questiona os rótulos impostos às mulheres em uma sociedade patriarcal. A autora convida suas leitoras a repensarem o feminino, incentivando uma libertação das amarras sociais e a busca por uma autenticidade pessoal. O enredo mistura relatos pessoais e poesia, criando uma narrativa que dialoga com as questões de gênero e identidade que estão no centro das discussões contemporâneas.

Fotos: Divulgação

Além dos temas tradicionais, a Bienal deste ano também traz novidades em termos de gêneros literários. A “ficção de cura”, um novo subgênero que vem ganhando popularidade, é representada pela escritora coreana Hwang Bo-reum, autora de “Bem-vindos à Livraria Hyunam-dong”. Este tipo de literatura, focado no conforto emocional e no acolhimento, reflete uma tendência de buscar na leitura uma forma de alívio em tempos de crise.

Outros autores, como Bianca Jung, com sua trilogia de ficção fantástica, e Roberta Gurriti, com um romance sobre jornalismo e cinema, mostram que a fantasia e o suspense também têm seu lugar garantido na Bienal. A presença desses novos gêneros e autores reafirma o compromisso do evento em ser um espaço inclusivo e diverso, onde todas as formas de arte literária podem coexistir e florescer.

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