Redação Culturize-se
A exposição “A.R.L. Vida e Obra”, dedicada ao trabalho do pintor e fotógrafo Antônio Roseno de Lima (1926-1998), entra em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro a partir de 4 de setembro. A mostra oferece uma visão abrangente da produção deste artista outsider, natural de Alexandria (RN), que encontrou na arte uma forma de expressar sua vida e aspirações.
A exposição reúne mais de 90 obras, com destaque para peças que revelam a essência da chamada Art Brut, movimento artístico que celebra a criatividade livre das influências acadêmicas e mercadológicas. Entre as obras expostas, algumas se destacam pela sua força expressiva e singularidade. “Bêbado com Cigarro I” (1986) é uma delas, trazendo a imagem de um homem com múltiplas fileiras de olhos, bocas e orelhas, cada boca segurando um cigarro. Essa obra é um dos ícones da produção de A.R.L., refletindo o olhar crítico e a visão de mundo do artista.
Outro destaque é “O Galo é Marido da Galinha I”, uma obra que remete ao fascínio de Roseno pela vida cotidiana, retratando animais de maneira quase caricatural. Além disso, “Abacaxi” se destaca não apenas pelo tema, mas também pela sua reprodução em 3D, pensada para ampliar a acessibilidade da exposição, permitindo que pessoas com deficiência visual possam explorar as texturas e formas da obra.
A exposição está organizada em seis seções que revelam as múltiplas facetas do artista. Na seção “O Bêbado”, os visitantes encontram obras que exploram a figura do alcoólatra, um tema recorrente na produção de A.R.L. Esta série, iniciada em 1975, foi a responsável por projetar o artista no mercado internacional, sendo marcada pelo uso de cores vibrantes e palavras que se misturam às figuras, criando uma poética visual única.
Na seção “Recortes da Cidade”, o público é convidado a mergulhar nas aspirações e fantasias de Roseno, que são expressas em composições onde ele se coloca em notas de dinheiro, sonha com casas bonitas e modernas, e idealiza um futuro de prosperidade. Essas obras mostram o desejo do artista de transcender as limitações de sua realidade e se conectar com um mundo maior.
“Presidentes” é outra seção importante da mostra, onde Roseno retrata figuras históricas e notáveis do Brasil, como Afonso Pena, Getúlio Vargas e Santos Dumont, este último sendo uma das grandes inspirações do artista. Através dessas obras, Roseno não apenas homenageia essas personalidades, mas também expressa seu desejo de voar, como deixa claro em seu frequente anseio de “ser um passarinho para conhecer o mundo inteiro”.
A paixão de A.R.L. pela fotografia também é evidenciada na seção “O Fotógrafo”. Em São Paulo, aos 35 anos, ele aprendeu a fotografar, um ofício que ele tentou manter vivo mesmo após enfrentar dificuldades financeiras que o obrigaram a fechar seu estúdio em Indaiatuba. A exposição inclui uma instalação chamada “Foto Santo Antônio”, que projeta imagens em looping das fotografias de Roseno, algumas delas com intervenções coloridas feitas à mão pelo próprio artista. Estas fotografias, agora parte do acervo do Centro de Memória da Unicamp, são testemunhos da versatilidade e criatividade de Roseno.
A seção “Frutos, Flores e Animais” apresenta composições que trazem elementos da fauna e flora, como galos, sapos e onças, em quadros que mostram traços quase “picassianos”. Já em “Mulheres e Santas”, Roseno explora o tema da feminilidade e da devoção religiosa, retratando mulheres em formas de sereias e figuras sacras como Nossa Senhora Aparecida.
Além das obras de arte, a exposição também conta com uma segunda instalação chamada “A.R.L Animado”. Nela, cerca de 20 obras foram reimaginadas pelo artista Nélio Costa, que desmembrou e transformou elementos das peças originais, criando uma experiência visual dinâmica e interativa para os visitantes.
Com um compromisso com a inclusão social, a exposição oferece QR Codes que permitem a audiodescrição das obras, e três reproduções em 3D para leitura tátil, tornando a mostra acessível a um público mais amplo.
“A.R.L. Vida e Obra” não apenas celebra a carreira de Antônio Roseno de Lima, mas também oferece uma oportunidade rara para o público conhecer mais sobre a vida e a arte deste notável artista outsider, cuja obra, nascida das adversidades da periferia, conquistou reconhecimento internacional.