Redação Culturize-se
Duas exposições distintas em Recife estão destacando a produção artística feminina, revelando tanto a força quanto a invisibilidade das mulheres nas artes visuais.
No Museu do Homem do Nordeste (Muhne), a exposição “Elas: onde estão as mulheres nos acervos da Fundaj?” foi inaugurada na quinta-feira (15), celebrando os 75 anos da Fundação Joaquim Nabuco e os 45 anos do próprio museu. A mostra reúne cerca de 300 itens, entre vídeos, fotografias, obras de arte, discos e cartões-postais, todos produzidos ou coletados por mulheres. O evento marca a reabertura do primeiro andar do Muhne, fechado desde 2008, e expande sua área de exibição em 450 metros quadrados.
A curadoria, realizada por Silvia Barreto, Sylvia Couceiro e Cibele Barbosa, destacou como a desigualdade de gênero permeia o acervo do museu e do Centro de Estudos da História Brasileira (Cehibra). Dos mais de 800 mil itens da Fundaj, menos de 15% das esculturas e 2,3% dos folhetos de cordel foram produzidos por mulheres. Além disso, apenas 14,3% dos autores identificados no acervo são mulheres. A exposição não apenas coloca em evidência o trabalho dessas mulheres, mas também reflete sobre a necessidade de maior reconhecimento e preservação de suas contribuições.
Simultaneamente, a Christal Galeria inaugurou a exposição “A arte como resistência”. Com curadoria de Joana D´Arc Lima, a mostra apresenta obras das artistas Maria Carmen e Vera Bastos, mãe e filha já falecidas, que marcaram a cena artística entre as décadas de 1970 e 2000. A exposição inclui pinturas, desenhos, colagens e esculturas, que capturam momentos pessoais e artísticos dessas mulheres.
Maria Carmen, em particular, foi uma figura importante no cenário artístico brasileiro e internacional, sendo a única mulher a integrar o grupo de artistas que participaram de exposições coletivas tanto no Brasil quanto no exterior durante os anos 1960 e 1970. Ela construiu fortes laços com artistas renomados, como Francisco Brennand e José Claudio, e foi parte do Grupo Austral do Brasil, ligado ao movimento surrealista francês PHASES.
Essas duas exposições ressaltam não só a contribuição das mulheres para as artes, mas também os desafios que enfrentam para serem reconhecidas e lembradas, sublinhando a importância de iniciativas que busquem reverter essa invisibilidade histórica.