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Hitchcockiano, “Armadilha” reafirma talento ímpar de Shyamalan para o suspense

Por Reinaldo Glioche

Cena do filme "Armadilha"

M. Night Shyamalan é um artesão do cinema e um dos poucos cineastas da atualidade capazes de criar uma atmosfera de claustrofobia e ansiedade na sala escura. “Armadilha”, desde o título e da premissa, sugere que esse exercício será potencializado.

O filme que marca o retorno do cineasta à Warner Bros., estúdio pelo qual lançou o fracasso “A Dama na Água” (2006), é um suspense desses que não se fazem mais atualmente. Não apenas pelas referências hitchcockianas que se acumulam, mas por se desenvolver com esmero narrativo e senso de humor.

É um filme que também mostra o lado paizão de Shyamalan. Não apenas pela relação de um pai e uma filha estar no centro da ação, mas pelo fato da própria ideia do filme ter surgido de conversas do cineasta com sua filha, Saleka, que debuta como atriz aqui. Ela é cantora, criou as composições que vemos e ouvimos no filme, e interpreta a postar Lady Raven.

É no show dela que Cooper (Josh Harnett) leva sua filha Riley (Ariel Donoghue), uma adolescente completamente fanática por Lady Raven. Acontece que o show é um armadilha, como aponta o título, do FBI para capturar um serial killer que está atormentando uma cidadezinha da Pensilvânia. E esse serial killer é justamente Cooper.

O filme se desenrola em atos muito bem polidos por Shyamalan, que enaltece a ação com uma arquitetura visual digna de nota.

Assim que toma ciência do plano do FBI, Cooper passa a tentar se esquivar da ofensiva, bem como encontrar uma saída da arena. Assim como a audiência, ele também fica ansioso com a inevitável colisão entre suas duas vidas, a de pai de família e a de serial killer.

O jogo de gato e rato é um deleite e enquanto as perguntas da audiência se acumulam, Shyamalan vai armando a sua armadilha – e o terceiro ato é uma locomotiva de pegadinhas e nuanças que tornam toda a experiência mais divertida.

Shyamalan orienta Josh Harnett e sua filha, Saleka, no set de “Armadilha” | Fotos: Divulgação

É interessante observar que este é o filme menos fabular do cineasta. Pelo menos se desconsiderarmos os encomendados “Depois da Terra” e “O Último Mestre do Ar”. Mas há um interesse genuíno em interpor o frenesi por popstars (e Taylor Swift parece uma referência óbvia) com o culto aos serial killers. Não à toa circula por aí a piada de que este é “Psicopata Americano (Taylor´s Version)”.  Trata-se, entretanto, de uma descrição acurada.

Não interessa a Shyamalan, porém, ofertar respostas ou inflexões à audiência, apenas ofertar um exercício hipotético que mantém a audiência em constante expectativa. Mesmo na cena final.

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