Redação Culturize-se
A Zipper Galeria, localizada nos Jardins em São Paulo, reafirma seu compromisso com a arte contemporânea ao apresentar duas exposições instigantes que estreiam simultaneamente neste sábado (10): “Lugar de Passagem” de Laura Villarosa e “Motel” de Evandro Prado.
Laura Villarosa, artista italiana radicada no Rio de Janeiro, traz para a galeria sua exposição “Lugar de Passagem”. A mostra apresenta dez obras inéditas que exploram cenários paisagísticos capturados como se vistos de um veículo em movimento. Inspirada por uma viagem de trem entre Paris e Beauville, Villarosa utiliza uma técnica singular que combina materiais têxteis com pintura acrílica, aquarela e resina.
O processo criativo de Villarosa é marcado pela espontaneidade e pela ausência de esboços prévios. Suas obras, que levam meses para serem concluídas, situam-se entre a figuração e a abstração, criando uma atmosfera silenciosa e sem fronteiras. A artista propõe uma reflexão sobre a passagem do tempo e a importância de viver o presente, tecendo simbologias que capturam momentos efêmeros como frames de uma viagem contínua.
Em contraste com a abordagem contemplativa de Villarosa, a exposição “Motel” de Evandro Prado, parte do projeto Zip’UP da galeria, apresenta uma crítica mordaz à política e à sociedade brasileira contemporânea. Prado, nascido em Campo Grande e residente em São Paulo, utiliza a estética das placas de estrada e anúncios americanos para criar um diálogo ácido e irônico sobre temas polêmicos.
Política & putaria
A série “Motel” ressignifica visualmente Brasília, retratando-a como uma Sodoma moderna. Através de quinze pinturas em óleo sobre linho, Prado manipula ícones religiosos e elementos do cotidiano para propor uma crítica incisiva. Suas obras exploram temas como política, religião e mercado, instigando reflexões sobre os valores e contradições da cultura brasileira.
As pinturas de Prado revisitam palavras e frases familiares aos brasileiros, como “Centrão”, “imbrochável” e “golden shower”, criando um contraste provocador com as cores fortes e primárias das placas. O linho, usado como tela, simboliza o céu e a terra de Brasília, adicionando uma camada extra de significado à sua crítica.
Ambas as exposições refletem a diversidade de abordagens na arte contemporânea brasileira. Enquanto Villarosa convida o espectador a uma reflexão poética sobre o tempo e a experiência, Prado desafia o público com sua crítica social aguda e irreverente.
A Zipper Galeria, desde sua inauguração em 2010, tem se destacado como um espaço dinâmico que acolhe a multiplicidade de discursos da cultura contemporânea. Ao apresentar estas duas exposições simultaneamente, a galeria reafirma seu papel como plataforma para artistas emergentes e estabelecidos, contribuindo para o enriquecimento do cenário artístico paulistano.
As exposições “Lugar de Passagem” e “Motel”, até o dia 6 de setembro, oferecem aos visitantes uma oportunidade única de experimentar duas visões artísticas distintas, mas igualmente provocativas. Enquanto Villarosa nos convida a pausar e contemplar a passagem do tempo através de suas paisagens etéreas, Prado nos instiga a um olhar crítico sobre a realidade política e social do Brasil.