Redação Culturize-se
A solidão e o isolamento social têm se destacado como questões críticas de saúde pública nos últimos anos, afetando profundamente a qualidade de vida e a saúde mental das pessoas. Em uma entrevista inspiradora com o cirurgião e ensaísta Vivek Murthy, discutiu-se a importância de políticas públicas para combater esses problemas, destacando as consequências devastadoras da falta de conexão social. Em um parecer oficial publicado após uma turnê de escuta pelos Estados Unidos em 2023, Murthy compartilhou insights de pessoas que se sentem isoladas, invisíveis e insignificantes, revelando que muitos enfrentam os fardos da vida sozinhos.
Esse parecer compilou dados mostrando que a solidão e a desconexão estão ligadas a distúrbios biológicos e psicológicos, como doenças cardiovasculares, demência, derrame, depressão, ansiedade e morte prematura. Murthy identificou a tecnologia, especialmente a internet e as redes sociais, como principais contribuintes para esse risco contínuo à saúde. A polarização política e o isolamento recomendado durante a pandemia de COVID-19 também exacerbaram o problema, dificultando a capacidade das pessoas de manterem-se conectadas.
A psicóloga Juliene de Cassia Leiva, do programa De Setembro a Setembro da Unesp, destacou que o isolamento social prolongado causado pela pandemia tornou o desafio de lidar com a solidão ainda maior. Ela observou um aumento no número de queixas relacionadas a transtornos como depressão e ansiedade no pós-pandemia, indicando que este fato está diretamente relacionado ao isolamento social.
O jornal The Lancet, um dos periódicos científicos mais respeitados do mundo, também reconheceu a gravidade da solidão e do isolamento social, anunciando a criação de um comitê para estudar essas questões. O comitê visa definir o que é a solidão, como identificá-la e as principais formas de combatê-la, utilizando as melhores evidências científicas disponíveis. Esse foco reflete a crescente conscientização sobre os impactos negativos da solidão na saúde mental e física.
Os vestígios da solidão
A relação entre solidão e prejuízos à saúde está bem documentada em uma série de pesquisas. Uma delas, realizada em 2010 na Universidade Brigham Young, revelou que indivíduos com relações sociais fortes têm 50% mais chance de sobreviver por mais tempo em comparação àqueles que interagem menos. Essa necessidade de manter conexões sociais está profundamente enraizada na origem de nossa espécie, formando famílias, grupos e sociedades. O acompanhamento de centenas de indivíduos realizado pela Universidade Harvard ao longo de 80 anos observou que o fator mais importante para sentir-se feliz no final da vida era a coesão social, não o sucesso financeiro, a fama ou o dinheiro.
Embora as palavras “solidão” e “solitude” sejam frequentemente utilizadas como sinônimos, elas representam estados distintos. A solidão é caracterizada por um sentimento de vazio e isolamento, muitas vezes acompanhado por tristeza e angústia, enquanto a solitude se define como um estado de estar sozinho de forma consciente e escolhida, propício para o autoconhecimento e a reflexão. Compreender essa diferença é crucial para buscarmos o bem-estar emocional.
A solidão pode surgir de diversas circunstâncias, como o isolamento social, a perda de um ente querido, doenças crônicas ou problemas psicológicos. Já a solitude pode ser uma escolha deliberada para momentos de paz interior, como um retiro espiritual, uma caminhada na natureza, a leitura de um livro ou a prática de hobbies individuais. A solidão é permeada por emoções negativas e geralmente involuntária, enquanto a solitude é acompanhada por sentimentos positivos e é uma escolha consciente.
Os impactos da solidão são amplamente reconhecidos. Vivek Murthy comparou a solidão a fumar 15 cigarros por dia em termos de prejuízos à saúde. Esse sentimento de desconexão e de não pertencimento a um grupo social traz implicações emocionais e comportamentais, relacionados a uma série de desfechos negativos para a saúde mental e física.
Murthy enfatizou a importância de fortalecer as conexões e relacionamentos, sugerindo que atos simples, como atender chamadas telefônicas de amigos, compartilhar refeições, ouvir sem distrações, realizar atos de serviço e expressar-se autenticamente, podem levar a vidas mais saudáveis e realizadas. Ele destacou que a qualidade de alguns relacionamentos próximos é mais importante do que o número de amigos que se tem, ressaltando o valor daqueles em quem podemos confiar durante crises.
A promoção de conexões sociais saudáveis e significativas é vital para o bem-estar individual e comunitário. Ao reconhecermos a importância dessas conexões e adotarmos medidas para fortalecê-las, podemos combater os efeitos devastadores da solidão e construir uma sociedade mais coesa e saudável.