Por Reinaldo Glioche
O dia 8 de julho de 2014 é um daqueles dias em que a Terra parou. Rememorar o 7 x 1 da Alemanha sobre o Brasil na semifinal da Copa do Mundo de 2014 é um exercício tanto filosófico como político, além, claro, do escopo social. A crítica oportunizada, portanto, é tanto estética quanto esportiva.
De lá para cá, como atesta a participação brasileira na Copa América 2024, o nosso futebol regrediu. Não temos a capacidade de formar meias criativos e nossos laterais são menos agudos e habilidosos do que outrora. Embora nossos clubes tenham dominado a América, vencemos seis das nove edições que se seguiram à Copa de 2014, nossos craques têm tido menos protagonismo na Europa e nossa seleção menos peremptória nos certames internacionais.
A Alemanha, por seu turno, teve pior sorte desde o tetra em 2014. Caiu na fase de grupos das duas Copas seguintes e se viu forçada a fazer restruturações em sua seleção que ainda não vingaram de todo. É consenso, porém, que segue produzindo jogadores mais talentosos do que o Brasil, pelo menos na chamada elite do futebol.
O sistema de academias de futebol alemão é considerado um dos melhores do mundo. Clubes da Bundesliga têm sido essenciais para o desenvolvimento de jovens jogadores, que são constantemente integrados à seleção nacional.
Crise de identidade
A crise de identidade do brasileiro com a sua seleção se intensificou da Copa de 2014 para cá. Muito pela apropriação de setores da direita da camisa amarela. Do impeachment de Dilma à ascensão de Bolsonaro à presidência da República, passando pelos gargalos de relações públicas de Neymar, grande craque da geração, o Brasil afastou-se do brasileiro. O que pode ser mimetizado, também, na inconsistência política no País, que vai desde o apoio à Lava-Jato ao esfacelamento da operação, e de nossas escolhas políticas – a eleição de Lula para um 3º mandato após ter passado um período na prisão e um governo mais à direita no Brasil ter vacilado na esfera social.
O 7 a 1 virou meme. Virou, também, expressão de descontentamento social. Quem nunca ouviu a expressão ‘todo dia um 7 a 1 diferente’? Mais intrinsecamente, o 7 a 1 se configurou em um traço relacionável da sociedade brasileira, que vai desde nossa resiliência ao componente de pária global.