Redação Culturize-se
Um estudo publicado no início deste ano apontou para uma preocupante tendência global: as taxas de fertilidade estão em declínio em quase todos os países, a ponto de não conseguirem sustentar os níveis populacionais atuais até o final do século. As projeções indicam que a maioria dos nascimentos ocorrerá em países mais pobres, delineando uma clara divisão entre um “boom de bebês” e um “declínio de bebês” ao redor do mundo.
De acordo com o pesquisador sênior Stein Emil Vollset, do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME) da Universidade de Washington, a tendência de declínio nas taxas de fertilidade resultará em um aumento significativo das populações jovens em países de baixa renda, que já enfrentam desafios econômicos e políticos. O estudo, publicado na revista The Lancet, projeta que 155 dos 204 países e territórios terão taxas de fertilidade abaixo dos níveis de reposição populacional até 2050, número que deve subir para 198 até 2100.
Os dados, coletados como parte do Estudo Global de Carga de Doenças, Lesões e Fatores de Risco, revelam que a taxa de fertilidade global caiu de cerca de 5 filhos por mulher em 1950 para 2,2 em 2021. Atualmente, 110 países e territórios (54%) possuem taxas abaixo do nível de reposição populacional de 2,1 filhos por mulher. A situação é particularmente alarmante em países como a Coreia do Sul e a Sérvia, onde a taxa de fertilidade é inferior a 1,1 filho por mulher, ameaçando a sustentabilidade de suas forças de trabalho.
Impactos econômicos e sociais
A queda das taxas de fertilidade preocupa economistas, pois as sociedades envelhecidas podem reduzir a força de trabalho, pressionar ainda mais a inflação e sobrecarregar programas governamentais destinados a cuidar das populações idosas. Segundo um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o declínio das taxas de natalidade alterará permanentemente a composição demográfica das maiores economias do mundo nas próximas décadas. Em 2064, espera-se que a taxa de mortalidade global ultrapasse a taxa de natalidade pela primeira vez na história moderna.
Nos 38 países membros da OCDE, a taxa de fertilidade caiu para 1,5 filho por mulher em 2022, bem abaixo do “nível de substituição” de 2,1 filhos por mulher necessário para manter populações constantes. Esse declínio significa que a oferta de trabalhadores está diminuindo rapidamente. Na década de 1960, havia seis pessoas em idade ativa para cada aposentado; hoje, essa proporção está mais próxima de três para um e deve cair para dois para um até 2035.
A diminuição da população também afeta as políticas de imigração, que no passado ajudaram a compensar os problemas demográficos enfrentados pelos países ricos. No entanto, a diminuição da população é agora um fenômeno global, tornando mais difícil para as economias avançadas “importar” mão de obra. Até 2100, apenas seis países terão crianças suficientes para manter suas populações estáveis: Chade, Níger, Somália, Samoa, Tonga e Tadjiquistão.
Os executivos de empresas norte-americanas têm mencionado a escassez de mão de obra em previsões de lucros ao longo da última década, e muitos veem o aumento da produtividade através da inteligência artificial (IA) como uma solução potencial. Um relatório da Goldman Sachs prevê que a IA generativa poderia aumentar o PIB global em até 7% em um período de 10 anos, mas ainda é cedo para determinar seu impacto completo na economia global.
Diante desses desafios, alguns líderes empresariais e políticos estão tomando medidas. O presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou um plano de “rearmamento demográfico” que inclui testes de fertilidade e mais licenças parentais. Nos Estados Unidos, o ex-presidente Donald Trump prometeu, se voltar à Casa Branca, apoiar “bônus para bebês” para incentivar um novo baby boom.
Além disso, a solução a longo prazo para o declínio das taxas de fertilidade inclui promover mais igualdade de gênero e uma partilha mais justa do trabalho e da educação dos filhos. Stefano Scarpetta, diretor de emprego, trabalho e assuntos sociais da OCDE, destaca a necessidade de mais licença parental remunerada e apoio financeiro para as famílias.
As projeções indicam que mais de três quartos dos nascimentos ocorrerão em países de baixa e média baixa renda até o final do século, com mais da metade ocorrendo na África Subsaariana. Esses países, muitas vezes já enfrentando instabilidade econômica e política, precisarão lidar com o crescimento de suas populações jovens em meio a sistemas de saúde sobrecarregados e desafios ambientais.
Em suma, o mundo enfrenta uma crise demográfica com implicações profundas para a economia global, a força de trabalho e os sistemas de bem-estar social. A resposta a essa crise exigirá uma abordagem multifacetada, incluindo políticas de imigração, inovação tecnológica e apoio às famílias. O futuro de baixa fertilidade é um problema que empresas e governos precisam se preparar agora, buscando soluções que promovam o equilíbrio entre crescimento populacional e sustentabilidade econômica.