Reinaldo Glioche
Um dos chavões de toda temporada do Oscar dá conta de que lançar um filme perto do fim do ano aumenta as chances do longa figurar entre os concorrentes ao maior prêmio do cinema. Isso porque atribui-se aos membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas certa falta de memória e falta de vontade de ir atrás de lançamentos mais antigos. Esse lugar-comum foi abraçado pelos estúdios que passaram a enfileirar seus lançamentos nos últimos três meses do ano e a congestionar os festivais outonais com filmes que aspiram uma vaga no Oscar.
A renovação dos quadros da Academia, no entanto, tem desafiado essa lógica. Com a instituição cada vez mais jovem, internacional e diversa, certas convenções estão sendo superadas e essa foi a primeira delas. Há a presença cada vez maior de filmes lançados no 1º semestre do ano e de longas que excursionam em festivais de cinema de prestígio, como Cannes e Veneza. 2024 é o terceiro em cinco anos que o vencedor da Palma de Ouro chega ao Oscar. É a segunda vez em cinco anos vez que os vencedores de Veneza e Cannes disputam Melhor Filme em uma mesma edição, mas apenas a terceira em toda a história da premiação.
A edição de 2024 atesta essa nova era, ainda, por outro prisma. Filmes lançados no final do ano acabaram barrados. É o caso de “Saltburn”, “Todos Nós Desconhecidos” e “The Boys in the Boat”. “A Cor Púrpura” só amealhou uma única indicação para Danielle Brooks como atriz coadjuvante.
“Vidas Passadas”, “Oppenheimer” e “Barbie”, três dos favoritos da temporada, foram filmes lançados entre maio e julho, uma época atípica para filmes que almejam chegar ao Oscar. Corta para o Oscar 2023 e o grande vencedor da edição, “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” fora lançado em março de 2022. Oscar 2022? “No Ritmo do Coração”, o grande vencedor da edição, fora lançado em julho do ano anterior.
Lançar filmes no fim do ano não é mais garantia de vaga no Oscar e pode até mesmo configurar em desvantagem na disputa pela estatueta quando os concorrentes já estiverem definidos. Não se faz aqui qualquer juízo se essa subversão de uma tendência vigente por décadas é boa ou não. Trata-se da observação de um redesenho na engrenagem das escolhas dos concorrentes ao Oscar e, nesse sentido, é oportuno registrar que evitar o lugar-comum, principalmente em algo tão influente e ressonante como o Oscar, é sempre uma boa pedida.