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“Propriedade” faz mescla inspirada de cinema de gênero com comentário social

Reinaldo Glioche

Fotos: Divulgação

O ano foi prolífero para o cinema nacional com alguns reencontros como a Sessão Vitrine Petrobras e muitas obras selecionadas para festivais mundo afora. Nesse cenário tão otimista é salutar que um dos últimos lançamentos comerciais de 2023 seja “Propriedade”, seguramente o melhor longa brasileiro da temporada.

O filme de Daniel Bandeira é uma virtuosa evolução da vocação do cinema nacional de fazer crítica social. Há um comentário social pujante aqui, mas ele não é limítrofe das possibilidades narrativas, tampouco circunscreve a obra, que ainda se resolve como um inspirado exercício de gênero. Os códigos do thriller e do horror se fundem a um cinema interessado em oxigenar um debate que costumeiramente surge repetitivo no cinema.

Violência urbana, moradia e trabalho análogo à escravidão são elementos que bombeiam a trama e deixam-se bombear por ela. Uma mulher às voltas com o trauma deixado por um episódio de violência urbana que viveu se vê novamente em uma situação limite quando instigada pelo marido a ir para sua fazenda precisa enfrentar a revolta dos trabalhadores insatisfeitos com o fechamento da mesma.

Bandeira enclausura sua protagonista em um carro blindado e a situação afigura todo um conflito de classes no Brasil de forma desenvolta e rebuscada, mas sem pedantismo. As bases para o thriller estão estabelecidas e a realização então sabiamente faz a opção de articular as soluções de thriller e deixar que o público faça os links da crítica social. Ao se desincumbir de aferir peso e relevância ao conflito exposto, o que não quer dizer que não haja elocubrações aqui e ali, “Propriedade” se pereniza enquanto cinema de verve e de lastro. Ajuda a performance monumental de Malu Galli.

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