Edson Aran
O príncipe Ali-O-Rolex foi até a magnífica varanda do seu magnífico palácio e observou a magnífica vastidão do seu magnífico reino.
A plebe cavava a areia em busca de petróleo, as mulheres eram perseguidas de porrete pela polícia e os jornalistas eram esquartejados discretamente num pequeno e verdejante oásis.
Ainda assim, Ali-O-Rolex estava triste. Ser príncipe não era mais tão bacana quanto costumava ser. Antigamente, ele era festejado no Oriente Médio, Próximo e Distante, era recebido com pompa e circunstância no Norte, Sul, Leste e Oeste, era tratado como “Vossa Alteza” até por republicanos legítimos.
Tudo tinha mudado. Ninguém mais gostava de príncipes.
Até as princesas Disney estavam autossuficientes. Eles encaravam dragões, monstros e feiticeiros sem ajuda de ninguém. Algumas até dirigiam carros! Oh, blasfêmia!
Ali-O-Rolex soltou um suspiro profundo e triste, sendo imediatamente cercado por dezenas de odaliscas que ofereciam uvas, tâmaras, água fresca, narguilé ou massagem gostosa com final feliz. Ele não queria nada. Queria apenas que as pessoas o enxergassem como um Príncipe Encantado e não como um Príncipe Sapo.
A imprensa o xingava de tudo quanto era nome feio: ditador, tirano, sociopata, psicopata, sanguinário, esquartejador, machista, chovinista, patriarcal e bobão.
Malditos jornalistas! Ele tinha todos esses pequenos defeitos sim, é verdade, mas custava focar nas qualidades? Ele tinha várias. Não sabia onde estavam, mas tinha. Ali-O-Rolex só queria ser amado. Custava amar um pouquinho? Custava?
Foi quando a campainha tocou. Era o Lula, o novo presidente de um país do sul do mundo. O príncipe não entendia essa necessidade besta de trocar o presidente de quatro em quatro anos, mas preferiu não comentar.
O Lula entrou e falou:
“E aí, companheiro príncipe? Fiquei sabendo que o senhor está borocoxô com a elite elitista ocidental e vim aqui te dar uma força, em nome das classes trabalhadoras… “
Ali-O-Rolex ficou tão feliz que abraçou e beijou o Lula. E com aquele beijo, deixou de ser um príncipe sapo e virou novamente um príncipe encantado, lindo e radiante como nos velhos filmes da Disney.
E naquele distante país do sul do mundo, houve regozijo e festa, enquanto a mídia dizia: “Veja bem, ele é ditador, tirano, sociopata, psicopata, sanguinário, esquartejador, machista, chovinista, patriarcal e bobão, mas temos que pensar no interesse do país…”
Moral da história: todo sapo vira um príncipe, só depende de quem o beija.