Redação Culturize-se
O ano começa com a individual de Lygia Clark no edifício da Pina Luz, em panorâmica que tem por objetivo formar repertório e promover experiências do público 20 anos após a última mostra dedicada à artista no museu. Clark foi um dos mais relevantes nomes da segunda metade do século XX, e suas reflexões e experimentações contribuíram intensamente para a renovação do campo artístico brasileiro. Pinturas de sua fase inicial, a passagem pelo movimento neoconcreto, objetos sensoriais, ações coletivas e experiências de seu método terapêutico estão representadas na mostra.
Na sequência, outro grande nome da arte latino-americana chega pela primeira vez ao Brasil com uma exposição individual. A artista chilena Cecília Vicuña ocupa a Grande Galeria da Pina Contemporânea a partir de maio, com obras que abordam temas urgentes, como a luta por igualdade de gênero, defesa da democracia, crise climática e justiça ambiental.
Ainda no primeiro semestre, a maior exposição monográfica de J. Cunha será exibida no 4º andar do edifício da Pina Estação, olhando para os mais de 50 anos de carreira do artista que é referência incontornável da arte baiana. A partir de agosto, uma exposição imersiva de Gabriel Massan e colaboradores chega à Pina Contemporânea, sendo uma produção original da Serpentine Arts Technologies. Massan leva para o universo dos games sua pesquisa feita a partir da experiência de pessoas racializadas no Brasil.
“A programação do ano de 2024 da Pinacoteca se estrutura de forma diversa a partir de pensamentos e de estratégias artísticas que falam da nossa relação com o meio ambiente e do afeto pelo outro”, observa Jochen Volz, diretor geral da Pinacoteca. “O ano dedicado à terra como matéria e território permite que, nos diferentes projetos, sejam abordadas questões ligadas à natureza e ao orgânico, ao local e ao vernacular, às especificidades que os contextos geográficos e identitários atribuem às relações de produção e troca e ao fortalecimento de vínculos de escuta e aprendizado”.
A programação começa em março no edifício da Pina Luz com a exposição panorâmica de Lygia Clark (Belo Horizonte, MG, 1920 – Rio de Janeiro, RJ, 1988), que apresenta o legado desta artista que transformou significativamente as possibilidades de produção, recepção e experimentação artísticas no Brasil e no mundo. A exposição perpassa diferentes momentos da carreira de Clark, apresentando seus objetos relacionais e proposições, como as instalações ‘A casa é o corpo’ (1968) e ‘Campo minado’ (1967-8), além de séries da fase neoconcreta, como ‘Linha Orgânica’ (1954-5) e ‘Bichos’ (1960-80).
Nas galerias do 2º andar do edifício, a primeira mostra individual de Gervane de Paula (Cuiabá, Mato Grosso, 1961) em uma instituição paulista faz um recorte dos 40 anos de carreira do artista, que questiona as problemáticas sociopolíticas do Centro-Oeste brasileiro. Ainda em março, José Bento (Salvador, BA, 1962) traz para o Octógono um projeto sensorial que pensa a relação com o espaço, tempo e memória, atribuindo novos significados ao seu principal material de trabalho, a madeira.
Retrospectiva dos mais de 55 anos de trajetória da artista chilena, Cecília Vicuña (Santiago, Chile, 1948) é uma colaboração da Pinacoteca com o Museu Nacional do Chile, em Santiago, e com o Malba, em Buenos Aires. A curadoria é do peruano Miguel López e levará pinturas, fotografias, vídeos, peças sonoras, esculturas e instalações para a Pina Contemporânea. Um de seus trabalhos mais emblemáticos, ‘Menstrual’ (2006), poderá ser visto pelo público pela primeira vez no Brasil.
Também em março, Sallisa Rosa (Goiânia, GO, 1986) ocupa a Galeria Praça com sua primeira grande instalação composta principalmente por esculturas em cerâmica, abordando questões ligadas à memória, ancestralidade, paisagem e erosão da terra. Com curadoria de Thiago de Paula, a mostra é comissionada pelo programa Audemars Piguet Contemporary e passará por Miami antes de chegar a São Paulo.
Na efeméride de 60 anos do Golpe Militar brasileiro (1964-1985), a Pinacoteca, em parceria com o Memorial da Resistência de São Paulo, constrói diálogos sobre o estado de exceção a partir dos acervos artísticos e documentais de ambas as instituições. A exposição conjunta ocupa o 2º andar da Pina Estação. No 4º andar, o universo simbólico de J. Cunha (Salvador, BA, 1948) apresenta as visões do artista sobre o Brasil.
2º semestre
Em setembro, as galerias temporárias da Pina Luz recebem uma grande mostra de tecidos tradicionais africanos, buscando reposicionar os entendimentos sobre os grafismos e a geometria em contexto não europeu. A mostra é realizada em parceria com a Fundação Jean-Félicien Gacha, organização camaronesa, e com Maison Gacha, espaço parisiense dedicado à conservação e valorização do patrimônio material e imemorial africano. Para o Octógono, Daniel Lie (São Paulo, SP, 1988) propõe um projeto baseado em sua pesquisa ao redor dos ciclos de transformação da natureza e nossas relações com diferentes ecossistemas.
Ainda em setembro, acontece uma coletiva que nasce a partir do trabalho emblemático de Almeida Júnior (Itu, 8 de maio de 1850 — Piracicaba, 13 de novembro de 1899), ‘O caipira’ (1883), para repensar o imaginário em torno da identidade deste tipo social construído para designar o paulista interiorano. A exposição acontece nas galerias do 2º andar da Pina Luz.
Em agosto, Gabriel Massan (Nilópolis, RJ, 1996) traz para a Galeria Praça da Pina Contemporânea um projeto centrado em um jogo de videogame desenvolvido pelo artista em colaboração com outras pessoas artistas brasileiras, tornando a mostra uma experiência imersiva para o público.
A partir de outubro, a Grande Galeria recebe exposição coletiva sobre a relação com a terra, com artistas brasileiros e internacionais que se voltam para noções de terra como território, origem e matéria, abordando problemas de ordem climática, infraestrutural e política. A Pina Estação encerra o ano com uma mostra de esculturas da coleção do acervo da Pinacoteca, nas galerias do 2º andar. O conjunto de obras elucidam argumentos e debates ligados à linguagem escultórica do século XIX à contemporaneidade.
No 4º andar, acontece uma panorâmica dedicada à produção da artista Renata Lucas (Ribeirão Preto, SP, 1971), nome fundamental da arte contemporânea brasileira, que nos últimos vinte anos tem investigado as negociações sociopolíticas que se dão na arquitetura, abarcando formas de viver, conviver e criar entre os espaços públicos e privados. Complementando a programação, uma sala de vídeo passa a integrar a programação anual do museu, recebendo por ano dois trabalhos audiovisuais da Pinacoteca.
“A Pinacoteca sempre está atenta às tendências do mundo da arte e também aos assuntos que mais repercutem na sociedade, com o intuito de cativar o público e incentivar reflexões importantes. Em 2024, os visitantes podem esperar a inauguração de exposições inéditas, inteligentes e surpreendentes”, sacramenta Marília Marton, secretária da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo.