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Brasil volta a viver episódio de censura envolvendo manifestações artísticas

Redação Culturize-se

Em um episódio que ecoa eventos semelhantes em 2017 e 2019, quando as exposições “Queermuseu” e a performance “La Bête” foram alvo de críticas contundentes, resultando em uma espécie de linchamento virtual de artistas e curadores, a exposição coletiva “O Grito!” foi abruptamente suspensa. A mostra estava em exibição na Caixa Cultural Brasília desde o dia 17 de outubro, mas foi cancelada em 20 de outubro, após apenas três dias de abertura. O motivo apresentado pela instituição foi a alegação de “viés político” em uma das obras expostas.

Caixa Cultural Brasília
Corredor da Caixa Cultural Brasília | Foto: Divulgação

A polêmica começou após a circulação de um vídeo feito por Evandro Araújo, presidente do PL-DF, nas redes sociais da deputada federal Bia Kicis (PL-DF) e da senadora Damares Alves (Republicanos-DF), onde Araújo condenava duas das obras expostas como “manifestações políticas”. A repercussão desse vídeo levou a Caixa Cultural a emitir um comunicado oficial anunciando o cancelamento da exposição.

A mostra “O Grito!” era curada por Sylvia Werneck e fazia parte do Programa de Ocupação dos Espaços da Caixa Cultural em Brasília. A exposição contava com obras de sete artistas visuais brasileiros, incluindo Élcio Miazaki, Evandro Prado, Gina Dinucci, Marília Scarabello, Moara Tupinambá, Paul Setúbal e Yara Dewachter. A exposição era organizada em torno da tela “Independência ou Morte” (1888), de Pedro Américo, que é considerada um “símbolo da inauguração do Brasil como nação autônoma”. A curadoria da exposição reunia artistas que questionavam as narrativas ufanistas presentes na história oficial brasileira, que a pintura de Pedro Américo procurou eternizar.

A controvérsia se concentrou em duas obras. A primeira, intitulada “Terra arrasada”, uma escultura de madeira de Moara Tupinambá, que representava um território devastado, com árvores derrubadas e corpos carbonizados. A artista explicou que essa obra era uma crítica ao desmatamento e ao genocídio indígena no Brasil.

A outra, intitulada “O Grito da Indignação”, é uma gravura do artista plástico mineiro João Paulo Machado. A obra mostra Lira, a senadora Damares Alves e o ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, dentro de uma lata de lixo.

O cancelamento da exposição gerou críticas de artistas, críticos de arte e organizações sociais, que argumentaram que se tratava de um ato de censura e uma ameaça à liberdade de expressão e à diversidade artística. Até o momento, a Caixa Cultural Brasília não emitiu uma resposta às críticas, mas anunciou que a exposição será reaberta em uma data futura, com a inclusão de uma nota explicativa sobre a obra de Moara Tupinambá.

Essa controvérsia em torno da exposição “O Grito!” ressalta a complexa relação entre arte, política e liberdade de expressão no Brasil, refletindo a polarização política e ideológica que persiste no país. Além disso, ela lança luz sobre a importância do Programa de Ocupação da Caixa Econômica Federal como um meio de promoção da cultura e das artes no Brasil.

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