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Jeff Nichols devassa subcultura hipermasculina pela ótica feminina em “Clube dos Vândalos”

Por Patricia Dantas, de Londres

“Clube dos Vândalos” foi o grande destaque do segundo dia do 67° Festival de Cinema de Londres. Baseado no livro fotográfico homônimo de Danny Lyon, o filme segue a vida de uma gangue de motociclistas de Chicago nas décadas de 60 e 70 e apresenta um elenco repleto de estrelas, incluindo Austin Butler, Tom Hardy, Jodie Comer, Michael Shannon, Mike Faist e Norman Reedus.

Em entrevista ao Culturize-se via Zoom, o escritor e diretor do longa, Jeff Nichols, famoso por “Amor Bandido” (2012) e “Loving” (2016), revelou por que tomou a decisão de contar a história de um mundo predominantemente dominado por homens pelos olhos de Kathy (Jodie Comer).

Austin Butler e Jodie Comer em cena | Foto: Divulgação/20th Century

“Acho que a resposta mais honesta, lendo o livro, simplesmente as entrevistas dela são as mais interessantes. Ela era uma mulher de verdade. E ela realmente disse muitas das coisas que diz no filme. E eu fiquei fascinado por isso. Ela, às vezes, era auto-depreciativa, introspectiva, mas também, em outras ocasiões, era enfurecedora pela maneira como via o mundo.”

Segundo Jeff, narrar a trama pela perspectiva de Kathy foi como encapsular o pensamento daquela época.

“Você sabe, do jeito que essa mulher falava em meados da década de 1960, não acho que as pessoas falariam assim hoje. E eu tinha essa cápsula do tempo da mente dela neste momento. E que melhor maneira de olhar para essa subcultura hipermasculina do que através dos olhos dessa mulher, porque ela pode julgar, mas também faz parte disso e está se julgando ao mesmo tempo”, explicou Nichols.

O cineasta continua: “E isso a coloca não apenas como narradora. Ela não é apenas uma observadora. Na verdade, ela é uma participante e, como resultado, é culpada por essa participação. E pareceu extremamente humano, extremamente honesto. Foi uma ótima maneira de remover as camadas do que é tipicamente alguma coisa forte, silenciosa e masculina.”

Durante o bate-papo, Jeff ainda comentou sua parceria de longa data com Michael Shannon, que tem em “Clube dos Vândalos” a sexta colaboração.

“Vários anos depois que descobri o livro do Danny, fui apresentado ao áudio real de algumas dessas entrevistas, e havia um personagem no livro chamado Zipco. E quando ouvi o áudio pela primeira vez, ele soava exatamente como Michael Shannon. Mike é meio camaleão e sua voz muda. Quando trabalhamos juntos pela primeira vez no meu primeiro filme, chamado ‘Shotgun Stories’, ele estava interpretando um personagem sulista americano. E então pensei que era assim que ele falava. Mas um dia eu o ouvi conversando com um de seus amigos em Chicago, e ele falava com aquele sotaque forte e pesado do meio-oeste de Chicago, e eu nunca tinha ouvido isso antes. E quando ouvi as gravações de áudio originais do Zipco, soou como Mike Shannon.”

O cineasta americano ressaltou como se sente privilegiado pelo fato de que um simples telefonema seja o suficiente para que Michael aceite participar de seus projetos.

“O personagem tem esses lindos monólogos sobre ‘Pinkos’ e a girafa e, em última análise, sobre não ser aceito, sobre ser um ‘outsider’, embora, estranhamente, ele não quisesse ser. E não havia mais ninguém que eu pudesse imaginar interpretando esse papel além de Mike. E então, em termos de nossa relação de trabalho, neste momento, e sei que estou em uma posição muito privilegiada para dizer isso, ligo para Mike e digo: ‘Ei, Mike, quero que você venha fazer esse papel.’ E ele diz: ‘Sim.’ E então ele faz.”

Burburinho para o Oscar

Após ser recebido bem pela crítica durante a estreia no Telluride Film Festival no fim de agosto,  “Clube dos Vândalos” tem sido cotado como um dos favoritos a indicações ao Oscar. No entanto, Jeff foi bastante modesto quando questionado se essa seria sua melhor oportunidade de brilhar na cerimônia da Academia em 2024.

“Eu não quero trabalhar na obscuridade. Quero contar histórias que as pessoas vejam. Quero contar histórias que as pessoas vivenciem. E se participar da conversa sobre o Oscar ajuda, ótimo. Eu não faço filmes para ganhar Oscars. Eu faço filmes para que as pessoas os vejam e os experimentem”, ponderou.

Clube dos Vândalos
Foto: Divulgação/20th Century

“Obviamente, é muito lisonjeiro porque é um prêmio da indústria que, sem dúvida, são seus colegas olhando o que você fez e dizendo que é cinema, algo que realmente vale a pena assistir. Mas, honestamente, fiz filmes que renderam algum dinheiro e fiz filmes que não renderam nada. Me sinto honrado, mas realmente só quero que as pessoas saiam e assistam a esse filme nos cinemas, porque ele foi feito para ser visto desta forma. Quero que elas tenham a mesma sensação que tive quando peguei o livro de Danny Lyon pela primeira vez. É um filme muito específico. E se as pessoas puderem ir ao cinema e vivenciar isso, isso sim é sucesso”, finalizou Nichols.

Atualização em 19/12/2023: “O Clube dos Vândalos” será distribuído no Brasil pela Universal Pictures e tem estreia programada para o primeiro semestre de 2024.

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