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Stan Rigdway, um dos maiores talentos dos anos 80 que (quase) ninguém conhece

Tom Leão

   Uma das bandas ‘oitentistas’ mais bacanas, que poucos tomaram conhecimento (jamais teve nenhum disco lançado oficialmente no Brasil), foi a americana Wall of Voodoo. Capitaneada pelo genial Stanard ‘Stan’ Ridgway (um dos letristas mais interessantes daquela geração) ela teve um breve momento de fama, quando estourou a música “Mexican Radio” (de seu segundo álbum, “Call of The West”, 1982), que teve boa rotação na MTV e vendeu muitos singles (compactos em vinil). Mas, acabou sendo um caso de one hit wonder.

E, Stan e a banda, voltaram para o undergroud rapidinho. Na verdade, depois disso, rolou um racha e, Stan, foi trilhar caminho solo, enquanto o que restou da banda tentou manter o curso, que durou pouco. Sem Stan, Wall of Voodoo acabou em 1988.

   Sem ele, não conseguiram. Porque, a alma do Wall of Voodoo era Stan. Ele começou a banda (na verdade, era apenas ele, sua harmônica e um monte de traquitanas eletrônicas), no fim dos anos 70, como um projeto de seu estúdio Acme Soundtracks, criado especialmente para fazer trilhas sonoras para terceiros (filmes, anúncios etc). Como o Acme Soundtracks ficava perto de um clube de rock, em Hollywood — e a então chamada ‘new wave’, estava rolando na esquina –, ele se juntou a uns amigos, vindos de diversas bandas punk locais, e acabou transformando o Wall of Voodoo num grupo, de fato. O nome (dado por um dos amigos, na véspera do primeiro show da banda), era uma brincadeira com o ‘wall of sound’, de Phil Spector. Já que, Stan, à sua maneira, também criou um tipo de som próprio, com seus instrumentos esquisitos, criados por ele mesmo.

Stan Ridgway
Foto: Reprodução/Wikipedia

   O primeiro trabalho lançado pelo WOV, foi um EP, sem nome, em 1980. Com cinco faixas (duas delas, apenas vinhetas) previamente criadas por Stan. Tudo com cara de trilha sonora de western-spaghetti ou filme pornô. Nele, há uma versão sensacional para “Ring of Fire”, de Johnny Cash (toda à base de sintetizadores e guitarra tremolo de faroeste), que usa trechos do tema do filme de espionagem “Flint Contra o Gênio do Mal” (“Our Man Flint”, 1966) em sua base. É muito bacana.

   A curta carreira da banda (abreviada por brigas internas e muitas drogas, sobretudo cocaína), incluiu participação nos importantes festivais Urgh! A Music War (promovido pela Anistia Internacional, em 1981) e US Festival (1982). E, dois álbuns bacanas, com a formação original (“Dark Continent”, 1981, com músicas dos primeiros anos) e “Call of The West” (seu quase sucesso, 1982). Os dois que vieram depois, já não era mais WOV (embora usassem o nome). Porque, não tinha mais Stan.

   Este, enveredou pelo que realmente queria fazer, desde o começo: trilhas sonoras. E, começou muito bem, colaborando com Stewart Copeland (o baterista do Police) para o filme “O Selvagem da Motocicleta” (péssimo nome em português para “Rumble Fish”, 1983), de Francis Ford Coppola. Neste, Stewart aparece na foto do encarte creditado como The Rhythmatist (o ritmista), porque toca uma batelada de coisas, incluindo até máquina de escrever. Mas, na única faixa com vocais, “Don´t Box Me In”, toda a verve e a voz peculiar de Stan, se destacam. As demais, instrumentais, traziam os ruídos peculiares deste (via sintetizadores e samples) com as criativas batidas de Stewart (toca até colher!). Deu liga. É uma trilha inusitada.

   Depois, Stan lançou o seu primeiro álbum solo, o ótimo “The Big Heat” (nome de famoso filme noir) e seguiu fazendo trabalhos que pareciam trilhas para filmes nunca lançados, como fazia nos tempos do Acme Soundtracks. Nenhum deles (doze, até agora) lançados no Brasil. Mas, para cinema, além de “Rumble Fish”, fez faixas ou scores completos para dúzias de filmes alternativos. Como “Slam Dance” (com o popstar inglês Adam Ant, 1987), “Um Som Diferente” (“Pump Up The Volume”, 1990, com o galã teen daquele momento, Christian Slater) e mais uma dúzia deles, todos obscuros e indies. Assim, Stan Ridgway, permanece como um dos maiores talentos do som dos anos 80 que (quase) ninguém conhece ou ouviu falar.

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