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Documentário investiga obra misteriosa de Leonardo da Vinci em ritmo de thriller

Redação Culturize-se

Desde sua surpreendente descoberta em uma loja de antiguidades em Nova Orleans, nos Estados Unidos, até sua chegada às mãos do príncipe Mohammad bin Salman da Arábia Saudita, a pintura “Salvator Mundi” tem sido uma fonte constante de fascínio e controvérsia no mundo da arte. A obra, atribuída a Leonardo da Vinci em um processo de autenticação ainda envolto em mistério, percorreu um trajeto cheio de reviravoltas e debates acalorados, destacando tanto as maravilhas do Renascimento quanto os desafios do mercado de arte contemporâneo.

Obra atribuída a Leonardo da Vinci em "O Leonardo Perdido"
Fotos: Divulgação

Repleta de incertezas e personagens intrigantes, essa jornada é explorada no envolvente documentário dirigido pelo dinamarquês Andras Koefoed, “O Leonardo Perdido”, disponível no catálogo do Amazon Prime Video.

Koefoed, através de sua lente meticulosa, levanta mais perguntas do que oferece respostas definitivas: “Salvator Mundi” pode ser tanto uma das descobertas mais notáveis da história quanto um dos golpes mais habilidosos já perpetrados.

O filme, habilmente editado para criar uma atmosfera de suspense, coloca o próprio Da Vinci no centro da narrativa. Koefoed não se limita às intrigas e segredos que cercam a pintura. Ele adentra questões mais profundas sobre a própria natureza da arte e o valor que atribuímos a algo que, em última instância, é altamente subjetivo. A comercialização de um objeto dessa natureza baseia-se em uma avaliação totalmente abstrata, dado que não existem critérios objetivos para quantificá-la. Isso leva o filme a nos instigar a questionar a relevância e a validade de atribuir um preço à beleza, destacando o conflito constante entre o talento do artista e os interesses financeiros dos envolvidos.

Trama de cinema

A descoberta da pintura já possui os elementos de um roteiro cinematográfico. Alexander Parish, especialista em desenterrar tesouros em pequenas lojas de antiguidades, adquiriu o quadro por meros US$ 1.175 (aproximadamente R$ 5.800). Inicialmente, a obra foi atribuída a um seguidor de Da Vinci, um aluno que imitava seu estilo. Parish e seu parceiro, Robert Simon, contrataram Dianne Modestini, professora de História da Arte da Universidade de Nova York, para restaurar a obra.

Foi nesse ponto que ela percebeu características mais profundas nas pinceladas que se assemelhavam ao estilo próprio de Da Vinci — ou pelo menos essa foi a teoria que ela defendeu. O filme lança dúvidas sobre sua imparcialidade, uma vez que ela tinha uma participação financeira nas futuras negociações.

O debate em torno da autenticidade de “Salvator Mundi” trouxe à tona outros especialistas, historiadores e colecionadores. Por anos, o mundo da arte ficou dividido entre os que afirmavam sua genuinidade e os céticos, que levantavam questões técnicas e históricas que lançavam dúvidas sobre a autoria.

Essa polarização tornou a obra ainda mais cativante e, consequentemente, inflou seu valor. O leilão na Christie’s em 2017 se tornou um momento marcante para os colecionadores, resultando no preço mais alto já pago por uma obra leiloada: impressionantes US$ 450 milhões (cerca de R$ 2,2 bilhões).

No entanto, a euforia dos leiloeiros e vendedores logo se dissipou diante das preocupações éticas e políticas. A identidade do comprador original permaneceu em segredo por um tempo, mas posteriormente foi revelado que o príncipe saudita estava por trás da aquisição.

Essa revelação causou indignação no Ocidente, pois Mohammad bin Salman estava associado a violações de direitos humanos e ao assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, um crítico de seu governo.

Outro aspecto curioso da história é a incerteza sobre o paradeiro da pintura. Estima-se que ela possa estar no Pegasus VIII, o iate de luxo do príncipe, avaliado em US$ 56 milhões.

Bin Salman negociou a exibição da obra na exposição que comemorou os 500 anos da morte de Da Vinci no Louvre em 2019. No entanto, um desentendimento surgiu entre o bilionário saudita e o museu francês: ele insistiu que “Salvator Mundi” fosse exposto na mesma sala que a Mona Lisa, a obra mais famosa do pintor italiano. O Louvre recusou essa demanda, adicionando mais um mistério à narrativa, como frequentemente ocorre com tudo que envolve essa obra intrigante.

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