Search
Close this search box.

O lado gangster da música ganha vida em “Rheingold – O Roubo do Sucesso”

Inacreditável trajetória do rapper Xatar, com um passado criminoso e uma saga imigrante, ganha vida em ‘Rheingold”, novo filme do alemão Faith Akin de “Soul Kitchen” (2009) e “Em Pedaços” (2017)

Por Reinaldo Glioche

Rheingold

O rap americano tem como uma de suas principais matizes a romantização do crime, algo que já foi foco de muitas polêmicas. Fato é que das letras às cenografias dos clipes, figuras como 50 Cent, Lil Wayne, Dr. Dre, entre outros, estreitam a relação do gênero com uma violência idiossincrática. Nada, no entanto, que se aproxime da extraordinária trajetória de Xatar, um rapper e empresário alemão que estourou com um álbum feito inteiramente na prisão.

É a trajetória de Xatar, cujo nome de batismo é Giwar Hajabi, que pauta o novo filme do cineasta Faith Akin. “Rheingold – O Roubo do Sucesso” tenta dar conta de um personagem que parece ter vivido muitas vidas em uma. E ele ainda está por aí, dando sequência a uma história digna de cinema.

Nascido no Irã e com ascendência curda, Hajabi foi para a Alemanha com seus pais ainda criança, a expectativa é que tivesse mais oportunidades. Elas até existiram, mas ele enveredou pelo caminho do crime e o longa passa a maior parte de suas 2h20 tateando essas circunstâncias.

Nesse contexto, o cinema de Guy Ritchie, de “Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes” (1998) parece ser uma referência forte para Akin. Mas seu filme não é apenas um gangster flick, o humor serve como ponte para a inspirada acepção musical que Hajabi tateia enquanto ascende no mundo do crime.

Akin não está interessado em julgar seu protagonista ou o universo em que está inserido, embora a cena final proponha certas reflexões para a audiência, mas em observar como aquele contexto foi fundamental para parir uma obra original e ressonante, bem como para estabelecer os termos de atuação de um empresário e produtor bem sucedido.

O protagonista é vivido por Emilio Sakyara, que segura bem as pontas de um filme cujo sentido se constrói todo em cima de sua presença cênica. Ainda assim “Rheingold” se resolve como uma produção um tanto irregular. Akin opta por montar o filme em torno do roubo de ouro que leva Akin à prisão e consubstancia sua fama e, se essa é uma boa sacada com vistas ao clímax, acaba por esvaziar de sentido narrativo outras demoradas fases da vida de Xatar.

Absorto, “Rheingold” se viabiliza como um filme que atende tanto à curiosidade pela trajetória de um dos rappers mais bem sucedidos da história, principalmente pelo fato de ter tangenciado todo esse sucesso fora dos EUA, como pela atenção sempre antropológica de Akin ao impacto imigratório na cultura europeia.

Deixe um comentário

Posts Recentes