Filme de Zachary Wigon aposta nos diálogos e em seus atores para inundar a audiência de sensações, nem sempre relacionáveis
Por Reinaldo Glioche
São apenas dois atores em cena durante os 90 minutos de “Sanctuary”, que se emancipa como um thriller erótico, mas é muito mais do que isso tanto na proposta narrativa como nos arranjos dramáticos. O roteiro de Micah Bloomberg estreita ainda mais a ação da dinâmica de uma peça de teatro e tem seus atos muito bem definidos, mas são os diálogos – desenvolvidos para compor o jogo de poder que só o sexo é capaz de desnudar – as estrelas do espetáculo.
Nesse diapasão, é preciso um par de atores capaz de navegar pelo absurdo, pelo sensual, pelo inescrupuloso e pelo que há de mais relacionável para o público. Christopher Abbott, que pode dar um mestrado em tipos amargurados e oprimidos pelo feminino, vive esse herdeiro que chama sua dominatrix para encerrar a relação, mas ela, vivida pela cada vez melhor Margaret Qualley, não dá pistas de que vai aceitar essa despedida numa boa.
Zachary Wigon dirige sem pressa e dando margem para os atores domarem o texto. Ambos têm monólogos para chamar de seu, embates e Oscar tapes, o que faz de “Sanctuary” um desses raros filmes em que as pedras fundamentais do cinema se alinham – um bom roteiro, bons atores e um cineasta consciente do que isso lhe enseja.
São esses requisitos que dão forma ao valioso estudo sobre o entranhamento das relações de poder em uma desconstrução cartesianamente inversa àquelas das comédias românticas. Não à toa, conforme a trama avança, mais o filme se assemelha a uma. É um método que avoluma o comentário pretendido e certamente torna “Sanctuary” mais estranho, aforista e anticlimático.