Banda inglesa, que ajudou a fundar o britpop, sai do exílio para se firmar como um vasilhame de reflexões oportunas e músicas que navegam entre o reconhecível e o possível
Por Reinaldo Glioche
Décadas atrás, o Blur, formado em 1988, se tornou um dos rostos mais visíveis do “Britpop”, uma etiqueta geral atribuída às bandas de rock britânicas dos anos 90 que se inspiraram na história do rock da ilha e conquistaram seguidores em todo o mundo.
A banda saí do exílio para lançar seu nono álbum de estúdio, o 2º em 20 anos, e ratificar-se em uma estatura diferente no rock contemporâneo, com viés revisionista, recebendo a melancolia inerente do passar do tempo e fazendo ótima música com ela.
I have lost the feeling that I thought I’d never lose/Perdi o sentimento que pensei que nunca perderia/Now where am I going?/Agora qual meu destino?/At what cost, the feeling that I thought I’d never lose/A que custo, o sentimento que pensei que nunca perderia/It is barbaric/ é bárbaro.
A melancolia de “Barbaric” é hipnótica e, 3ª faixa de “The Ballad of Darren”, dá o tom de um álbum que se sustenta tanto no legado como na percepção dele. Empty grove, winter darkness/Bosque vazio, escuridão de inverno/We’re taking down the scaffolds very soon/Vamos derrubar os andaimes muito em breve.
O “Darren” do título é um membro da equipe de longa data, mas também representa o homem comum de certa idade. (O nome atingiu o pico de popularidade para bebês nascidos na década de 1970, mas saiu do top 100 dos nomes masculinos na Inglaterra em 1994). A confissão furiosa de “Charles Square” (I fucked up/I´m not the first to do it), revela as dores que permeiam o disco, que erige-se fundamentalmente das vivências do vocalista Damon Albarn, responsável pela maioria das composições.
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O músico, que também integra o Gorillaz, já disse em algumas entrevistas que esse disco é fruto de seu estado de profunda tristeza aos 50 anos e classifica o disco como “pós-choque”, após pandemia, perda de amigos, recuperação do vício em drogas, entre outras celeumas.
O que nos leva a “The Narcissist”, um exame vigoroso e desapegado do pop stardum travestido de single, no qual Grahan Coxon canaliza um pouco do toque característico de Johnny Marr e a voz de Albarn aparece em falsete enquanto ele implora para não ser machucado novamente.
O grande trunfo de “The Ballad of Darren” é abraçar a efemeridade da vida e neste gesto, tão caótico quanto consciente, viabilizar-se como um templo da arte que se pretende revisionista e, ainda, assim construtiva. O Blur encanta em seu desencanto.