Prédio dedicado exclusivamente à multiartista recebe duas instalações imersivas: “I’m Here, But Nothing” (2000) e “Aftermath of Obliteration of Eternity” (2009)
Redação Culturize-se
A partir de 16 de julho, o Instituto Inhotim inaugura sua vigésima galeria permanente, dedicada à renomada e emblemática artista Yayoi Kusama (Matsumoto, Japão, 1929). A Galeria Yayoi Kusama abriga duas de suas obras: “I’m Here, But Nothing” (2000) e “Aftermath of Obliteration of Eternity” (2009), pertencentes à Coleção do Instituto Inhotim, adquiridas em 2008 e 2009, respectivamente.
“A inauguração da Galeria Yayoi Kusama realiza uma ambição artística central do Inhotim em relação ao trabalho de uma das artistas mais visionárias de nosso tempo”, afirma Allan Schwartzman, cofundador do Inhotim. “Essa ocasião nos permite oferecer uma presença permanente para três das obras mais emblemáticas da artista, cada uma delas incorporando uma expressão ambiental distintamente diferente do universo criativo de Kusama: a transformação óptica de um espaço escuro em um lugar de sobrecarga sensorial; um espaço contemplativo infinito; e um jardim suspenso composto por inúmeras esferas metálicas flutuantes sobre a paisagem natural do Inhotim. A Galeria Yayoi Kusama incorpora os mais altos objetivos do Inhotim em oferecer ambientes únicos para a experiência de obras de arte excepcionais em grande escala para um público amplo e diversificado”.
Yayoi Kusama é reconhecida mundialmente por seu trabalho caracterizado por uma imaginação criativa e cativante, abrangendo diversos suportes e linguagens, especialmente instalações imersivas que convidam o espectador a mergulhar em seu universo, aguçando sua percepção. Happenings, performances, pinturas, esculturas, instalações, trabalhos literários e filmes fazem parte do rico acervo dessa artista multifacetada. A participação coletiva em suas instalações de imersão dá sentido às suas obras, proporcionando uma experiência sem limites, sem fronteiras, repleta de cores, contrastes, luzes e sombras.
O projeto arquitetônico da Galeria Yayoi Kusama foi desenvolvido pelos arquitetos Fernando Maculan (MACh) e Maria Paz (Rizoma), ocupando uma área de 1.436,97 m², próxima à Galeria Cosmococa e ao Jardim Veredas, no Eixo Laranja. A proposta arquitetônica da galeria não apenas busca fornecer um espaço protegido para as instalações, mas também para o público, com ênfase na ideia de espera e permanência em um ambiente de convívio. “Dada a relevância do trabalho de Yayoi Kusama e a conhecida atração de grandes públicos, o projeto da galeria conta com um amplo espaço de espera e preparação”, explicam os arquitetos.
O paisagismo da Galeria Yayoi Kusama apresenta um caminho sinuoso de pedras que revela a galeria ao público, despertando curiosidade à medida que se percorrem as curvas do trajeto. O projeto paisagístico foi realizado por Juliano Borin, curador botânico do Inhotim, e Geraldo Farias, da equipe do Jardim Botânico do Inhotim, com contribuições de Bernardo Paz. O jardim planejado é inspirado em um jardim tropical multicolorido, com um toque psicodélico, no qual mais de 4 mil bromélias foram plantadas, incorporando a linguagem paisagística já consolidada do museu e jardim botânico, mas também fazendo referência à origem japonesa de Yayoi Kusama e aos famosos pontos que permeiam sua obra.
Yayoi Kusama
Os padrões repetitivos têm sido uma marca na trajetória de Yayoi Kusama desde seus desenhos na infância. Nessa mesma época, devido a sua condição de saúde mental, ela começou a vivenciar alucinações envolvendo pontos e círculos constantes, conhecidos como “polka dots”. O desejo de se tornar artista, apesar dos conflitos familiares e da falta de apoio, levou Kusama a se mudar para os Estados Unidos no final da década de 1950. Foi em uma de suas primeiras exposições em Nova York que a artista ganhou notoriedade por suas pinturas de grande escala, caracterizadas por infinitos pontos monocromáticos sobre a tela. Ao explorar diversos suportes e linguagens, Yayoi Kusama desenvolveu projetos artísticos cada vez mais audaciosos, desafiando o contexto conservador da época, manifestando-se politicamente e propondo a libertação do corpo por meio de happenings e performances.
Existe um conceito central que percorre toda a obra de Kusama e acompanha sua carreira: o conceito de auto-obliteração. Esse conceito envolve a abolição da individualidade para se tornar um com o universo, e é expresso no título de uma de suas obras presentes na nova galeria do Inhotim. Dessa forma, Kusama nos lembra que estamos conectados por algo maior e que fazemos parte de um todo. Essa sensação de auto-obliteração dissolve-se e acumula-se, prolifera e separa-se, ao mesmo tempo em que nos integra ao ambiente, na busca pelo infinito por meio da repetição das formas.
Em uma performance realizada em 1967, durante a exibição do filme “Self-Obliteration” (Auto-Obliteração), Yayoi Kusama utilizou tinta e lâmpadas fluorescentes pela primeira vez para tornar visível sua percepção de mundo, que passa pela repetição de elementos como pontos e partes do corpo. Após utilizar pessoas como telas para suas pinturas, a artista passou a transformar a percepção por meio de ambientes imersivos, como é o caso de “I’m Here, But Nothing” (Estou Aqui, Mas Nada).
Arquitetura e paisagismo
Para a Galeria Yayoi Kusama, foram projetados pequenos espaços abertos com bancos de madeira, convidando os visitantes a permanecerem e desfrutarem da atmosfera e da vista. Vistos de cima, como uma intervenção colorida na paisagem, esses espaços conectam dois momentos da vegetação existente – a mata espontânea e o jardim planejado – e parecem esconder um mundo mágico a ser descoberto por aqueles que visitam o parque. “Nosso projeto se resume em duas ações sobre essa paisagem já modificada: a criação de uma cobertura leve para sombreamento de toda a área e a incorporação de um edifício longilíneo que se estende ao longo da praça até a mata, ancorado nas duas encostas laterais”, explicam Fernando Maculan e Maria Paz, os arquitetos responsáveis pelo projeto.
Ao longo de toda a extensão da praça e da galeria, uma tela metálica flexível foi instalada para sustentar o crescimento de uma vegetação de origem asiática – a Congea tomentosa. Essa planta trepadeira de ampla cobertura possui uma floração densa que ocorre após o inverno, trazendo a noção de tempo e transformação contínua para o projeto da Galeria Yayoi Kusama. Sua inflorescência apresenta uma variação de tons, incluindo branco, rosa, lilás e cinza.
No jardim planejado da galeria, foi seguida a tonalidade avermelhada da estrutura de aço corten presente no edifício principal. Bromélias verdes, amarelas e avermelhadas foram escolhidas, muitas delas com círculos naturais em suas folhas, em referência ao trabalho da artista. Para realçar o amplo espaço livre da galeria, foram selecionadas plantas de porte baixo. Além disso, o uso do arbusto Conchocarpus macrophyllus, espécie nativa da Mata Atlântica, traz uma verticalidade única às plantas, alinhando-se com o piso e as chapas metálicas do revestimento da galeria.
“Utilizamos muitas plantas da família Marantaceae, com suas folhas que parecem pintadas à mão, tornando o jardim mais onírico”, comenta Juliano Borin, curador botânico do Jardim Botânico do Inhotim. As pedras utilizadas no jardim da galeria são blocos maciços de minério de ferro, que, segundo Borin, trazem a identidade do Inhotim e da própria galeria. Em outra referência à terra natal da artista, a disposição das pedras aponta para o Japão.
Os detalhes para a visitação podem ser conferidos aqui.