Redação Culturize-se
No final dos anos 1970, o artista plástico Júlio Veredas foi presenteado com uma fita cassete de um músico e compositor chamado Elomar Figueira Mello. As músicas únicas e o dialeto peculiar presente nas composições de Elomar o conquistaram completamente. Essa descoberta marcou o início de uma série de obras de arte influenciadas pela musicalidade do músico, e agora essas obras estão reunidas na exposição intitulada “Profundus, Sertanus, Incantatus”, que será realizada no Centro Cultural São Paulo, no Piso Flávio de Carvalho – Lateral 23 de Maio, a partir do dia 20 de julho. No dia da abertura, às 20h, haverá uma apresentação musical com o maestro e violonista João Omar, acompanhado pela violoncelista Gabriela Mello, filho e neta de Elomar, respectivamente.
A mostra, com curadoria de Allan Yzumizawa, mestre em artes visuais, apresentará aproximadamente trinta obras de Júlio, incluindo desenhos feitos com grafite em papel, nanquim sobre papel e aquarela. Essas obras foram criadas desde o início dos anos 1980, quando Júlio teve a oportunidade de conhecer Elomar pessoalmente, até 2022. O projeto foi realizado com o apoio do prêmio Exposição Inédita do PROAC 2022, com o suporte do Centro Cultural São Paulo.
Júlio Veredas é conhecido por uma obra fortemente influenciada pela música e pela literatura. Ele conta que os trabalhos apresentados nessa exposição inédita também são influenciados pela poesia do escritor João Guimarães Rosa, que reconstrói a imagem do sertão e universaliza o eterno conflito entre o ser humano e seu destino, uma característica compartilhada com a música de Elomar Figueira Mello.
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A partir da perspectiva da busca e exploração do sertão interior, Júlio Veredas ilustra a encruzilhada de onde partem e convergem inúmeros caminhos e alternativas que habitam seu íntimo. Ele conta: “O título dessa exposição carrega um pouco do encantamento que testemunhei em minhas interações com amigos que vivem na Caatinga. Muitas vezes, eles compartilhavam suas histórias comigo em bares à beira das estradas, enquanto eu compartilhava as histórias do que estava vivendo em São Paulo. Mesmo tendo morado lá por muito tempo, eu não me sentia um vaqueiro, um catingueiro. Foi nessa troca que nossas histórias ganharam um certo encanto, moldando nossas identidades”, conclui o artista.
Elomar Figueira Mello, nascido em Vitória da Conquista, Bahia, é um compositor, escritor, violonista e cantor. Atualmente, aos 85 anos, ele é considerado um artista singular na música brasileira, e sua obra se destaca como um marco significativo no panorama da música popular brasileira. Sua música é caracterizada pela presença marcante de dialetos variantes, arcaísmos e neologismos, formando uma linguagem singular enraizada na oralidade sertaneja. Suas letras abrangem uma ampla gama de temas, muitas vezes relacionados ao imaginário rural do sertanejo nordestino, com elementos medievais, cristãos e ibéricos.
Elomar Figueira Mello comenta: “Quando vi pela primeira vez os desenhos desse meu amigo, Júlio Veredas, gostei muito, pois vi desenhos que retratavam algumas das minhas estrofes e centenas deles. Vi que ele retratava a própria vereda que sua bela alma percorre. Ao contemplá-los, consigo vislumbrar, como em sonhos, fragmentos de paisagens que minha alma viu antes de nascer, e também ouço o prenúncio, apenas uma aurora mágica que anuncia a impossível ressurreição de uma daquelas tardes perdidas e distantes da infância.”
Serviço:
“Profundus, Sertanus, Incantatus” | Júlio Veredas
Local: Centro Cultural São Paulo – Piso Flávio de Carvalho – Lateral 23 de Maio
Endereço: Rua Vergueiro, 1000 – Paraíso, São Paulo – SP, 01504-000
Período expositivo: 20 de julho de 2023 até 23 de agosto de 2023. Terça a sexta, das 10h às 20h. Sábado, domingo e feriados, das 10h às 18h
Entrada gratuita