Documentário é o 1º filme de Marcos Yoshi e narra a épica jornada de seus pais para existir e de uma família para coexistir
Por Reinaldo Glioche
Existe razão para fazer um filme? Existe razão para fazer um filme sobre sua família? Ou ainda, sobre a dificuldade de seus pais, imigrantes, de se readequar à vida no Brasil depois de um longo período no Japão? A irmã do realizador de “Bem-vindos de Novo” teoriza de que o filme, mais do que a possibilidade de conhecer os próprios pais, talvez seja a forma com que Marcos Yoshi acena para que os pais o conheçam.
Esse contexto apenas, já bastaria como estímulo a conhecer a saga de uma família, cujos progenitores lutaram arduamente pelo direito de existir e cujos descendentes não só valorizam esse bom combate, como se juntam a ele no sentido de coexistência. De arbitrar uma convivência cheia de tremores, ausências e possibilidades perdidas.
Essa parábola dekassegui (um verbete japonês para designar uma pessoa que deixa sua terra natal para trabalhar em outro país) acaba por se resolver como um estudo afetuoso do significado de família, mas também uma melancólica observação sobre sentir-se estrangeiro em seu próprio país e entre os seus.
O longa começou a ser rodado em 2015 e Yoshi tinha muito claro que a imigração seria um tema central da obra. “Identificava que a separação familiar causada pelo deslocamento, seja forçado ou por questões econômicas, é muito presente na migração de nordestinos para o sudeste”, conta o diretor em manifestação à imprensa. “Eu intuía que se eu conseguisse ser o mais justo possível com as relações humanas dentro da família, e o mais honesto possível com os sentimentos e as emoções – o que não é nada fácil –, tudo isso ressoaria nas pessoas.”
Os descendentes de japoneses Yayoko e Roberto Yoshisaki foram tentar uma vida melhor no Japão enquanto seus três filhos ficaram no Brasil com os avós. O casal retorna 13 anos depois e a família passa por uma complexa reconstrução afetiva. A documentação desse processo rende um filme cheio de pequenos momentos, adornados por reflexões ora desajeitadas, ora confessionais do realizador.
Yoshi precisou despir-se de muita coisa para exibir tanta intimidade e o resultado é um filme que soa íntimo, ainda que candidamente universal. Não é pouco, principalmente para um marinheiro de primeira viagem. Evocando a irmã de Yoshi, aqui, entretanto, ele é mais filho do que diretor e para “Bem-Vindos de Novo” isso é uma ótima notícia.