Culturize-se visitou o pavilhão do Pacaembu, que até domingo (4) é ponto de encontro para quem respira arte – do design à pintura – e também gosta de viver em sua companhia
Por Reinaldo Glioche
O Pavilhão Pacaembu, na Praça Charles Miller, no bairro do Pacaembu, em São Paulo, recebe no início desse mês de junho a ArPa, uma feira de arte que tem como objetivo primário ser um marketplace para colecionadores de arte e um ponto de evidência para galeristas que queiram expor algum artista com maior amplitude.
A ArPa é, portanto, um espaço para os entusiastas da arte. São mais de 50 expositores, inclusive de fora do País, no evento. Neste ano, o bônus da feira acontecer em concomitância com a MADE, feira de design que chega a sua décima primeira edição.
O visitante é recebido por um telão com vídeos de galerias internacionais, propondo uma imersão em arte desde a chegada. Esse espaço, denominado Setor Satelite, é curado por Diego Matos. Nomeada como Pontos de Luz, em referência objetiva à canção homônima interpretada por Gal Costa, com música e letra de Jards Macalé e Waly Salomão, as produções insinuam e evocam a ideia de presença e atuação política do corpo em contextos de responsabilidade ambiental, social e ética. Os filmes selecionados foram distribuídos em três subprogramas e um apêndice que são apresentados diariamente nos dias da feira.
Almeida & Dale Galeria de Arte e Milan são duas das primeiras galerias tão logo a reportagem acessa o Setor Principal que dispõe de estandes de 30m² a 50m². Os espaços foram desenvolvidos para favorecer uma experiência contemplativa da arte, bem como proporcionar uma atmosfera mais íntima entre público e expositores. Durante a visita de Culturize-se, o público estava engajado, conversando com os representantes das galerias – alguns artistas também estavam presentes -, tirando fotos e efetivamente experienciando aquele espaço, um templo de devoção, por assim dizer, à arte, de formas, texturas e narrativas distintas, mas em comum sua contemporaneidade.
Destacar a arte contemporânea é o objetivo secundário, se ainda estamos contando objetivos, da ArPa. A grande maioria das obras expostas foram feitas no intervalo entre 2020 e 2023, mas há trabalhos das décadas passadas e um visitante obstinado se depara com obras, principalmente óleo sobre linho, dos anos 80.
A Galeria Lume chama atenção com um dos projetos mais interessantes da edição ao trazer o choque entre o barroco e contemporâneo pelas mãos do mineiro Francisco Nuk. O espaço busca, ainda, a contraposição entre os simbolismos do céu e as gavetas. Como registra o texto que amplia a sensorialidade da instalação, “entre a realidade e a imagem da realidade, os artistas exploram a indeterminação do objeto por vezes úteis, por outras devaneio”.
Outras obras que se destacam entre tantas belezas rítmicas e arrítmicas, são as Afetocolagens de Silvana Mendes, uma tentativa de reconstruir narrativas visuais de pessoas negras na fotografia colonial e a exaltação quase religiosa da gravura por Sérgio Fingermann. O vocabulário gestual de gravador, com linha que parece mais entalhada do que pintada, está todo lá, gritando para quem se dispõe a observar suas pinturas.
A visita se encerra com um olhar demorado pelo desbunde do colecionismo proposto pela MADE. Brutalismo e minimalismo conversam em muitos dos trabalhos ali expostos no evento que tem “Terra” como tema em 2023. Elemento da natureza que apresenta diferentes texturas, tons e composições, à terra remete às nossas origens também enquanto símbolo da existência. Do ponto de vista do design, é no mínimo interessante ver como diferentes ateliês trabalharam esse discurso temático em suas obras.
Outro ponto alto da MADE, nesse contexto, foi ver como esses projetos – tão inovadores como bonitos – podem contribuir para a conscientização ambiental e na busca por soluções criativas para obstáculos introjetados pela contemporaneidade.
No concretismo de São Paulo, a ArPa mais do que um respiro representa uma abstração – ainda que calculada e imersa em bem-vindas reflexões.