Exposição antológica reúne cerca de 120 obras de Helena Almeida e será aberta ao público em 8 de junho com entrada gratuita
Redação Culturize-se
Helena Almeida (1934-2018), nome central da arte contemporânea, criou uma obra que rompeu com as fronteiras entre as diferentes formas artísticas e investigou questões como a relação entre corpo e espaço, arte e vida, e a representação da mulher. A partir de 8 de junho, o público brasileiro terá a oportunidade de visitar pela primeira vez uma exposição individual da artista, intitulada “Fotografia habitada: Antologia de Helena Almeida, 1969-2018”, no IMS Paulista, em São Paulo, com curadoria de Isabel Carlos, especialista na obra da artista e autora do livro “Helena Almeida: dias quasi tranquilos”. A mostra apresentará cerca de 120 itens, incluindo fotos, desenhos, vídeos e livros, produzidos entre 1969 e 2018. No dia da abertura, haverá um debate entre a curadora e o historiador da arte Ivo Mesquita, mediado pelo diretor artístico do IMS João Fernandes.
Helena Almeida nasceu em Lisboa em 1934 e teve contato com a arte desde cedo, pois seu pai, Leopoldo de Almeida, era um escultor famoso em Portugal. Em 1955, formou-se em pintura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa e, em 1964, foi para Paris, onde realizou parte de seus estudos. Ao retornar a Portugal, inaugurou sua primeira exposição individual e começou a produzir trabalhos que expandiram os limites da pintura.
Com o tempo, a fotografia assumiu um papel central em sua obra, tornando-se o principal meio de expressão de grande parte de suas experimentações. Em diversas séries, é possível encontrar autorretratos da própria artista realizados em seu ateliê, explorando as relações entre corpo, espaço e autorrepresentação. No entanto, essas imagens são o resultado de um processo criativo longo, no qual Helena utilizava recursos tanto do desenho quanto da pintura e do cinema.
A curadora Isabel Carlos comenta o processo criativo de Helena Almeida em um texto do catálogo da exposição, destacando que cada imagem, gesto, posição e enquadramento é cuidadosamente pensado e desenhado, assim como um cineasta planeja cada plano de um filme. A fotografia de Helena Almeida é habitada pela pintura, pelo desenho, pela escultura, pela arquitetura, pela performance e, acima de tudo, pelo seu corpo e seu sentido.
A exposição apresentará obras significativas, como a série “Tela rosa para vestir” (1969), na qual a artista se veste literalmente com uma tela, como se fosse um vestido, desafiando as fronteiras entre criador e obra, pintura e fotografia, ser e fazer. Outro destaque é a série “Estudo para um enriquecimento interior” (1977), na qual Helena representa a si mesma “comendo” uma mancha de tinta azul pintada sobre a fotografia, explorando o corpo feminino e sua relação com o espaço.
Helena Almeida reflete sobre esse aspecto de sua produção em uma entrevista presente no catálogo da exposição, questionando os limites do corpo e sua forma, e a solidão que existe tanto em si mesma quanto nos corpos dos outros.
A exposição oferece uma oportunidade única de apreciar a obra inovadora e impactante de Helena Almeida, uma artista que deixou um legado significativo na arte contemporânea.
Em sua produção, Helena Almeida desafia e confronta os limites do espaço doméstico e do olhar masculino. Em um contexto de conservadorismo e repressão da ditadura salazarista, ela aborda questões de cerceamento e de quem tem o poder de falar. Um exemplo disso é a série “Ouve-me” (1979), composta por imagens de sua boca, algumas costuradas por uma linha, outras tapadas por um lenço.
A exposição também inclui obras mais recentes, como a série “Seduzir” (2002), que apresenta várias imagens em preto e branco de uma única mulher, a própria Helena, todas tiradas em seu ateliê. Nas fotografias, o rosto da artista nunca é capturado, ela veste uma roupa neutra, como se fosse uma mulher anônima. O foco está nas pernas e nos pés, que surgem em posições contorcidas ou com uma mancha vermelha na sola, ironizando a palavra “sedução” associada aos sapatos de salto alto.
A seleção de obras também abrange sua produção mais recente, como “Dentro de mim” (2018), que apresenta imagens de Helena com um saco negro cobrindo sua cabeça, além de um trabalho em áudio que permite aos visitantes ouvirem o som da artista desenhando, especialmente o contato do grafite com o papel. Em exibição até 24 de setembro, a exposição traz ao público brasileiro a produção de uma artista singular, que explorou temas centrais na história da arte. Como destaca Isabel Carlos, a obra de Helena Almeida abrange diversos movimentos artísticos, do minimalismo ao conceitualismo, da performance à fotografia, de maneira inventiva e pessoal, criando um vocabulário e um mundo próprios, sem se desvincular de suas referências.
Serviço
Exposição Fotografia habitada, antologia de Helena Almeida, 1969-2018
Abertura: 8 de junho
Visitação: até 24 de setembro
IMS Paulista
Avenida Paulista, 2424
Entrada gratuita