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Bem intencionado, “Urubus” falha ao tentar convergir interesses em narrativa difusa

Longa-metragem de Claudio Borrelli tem como objetivo primário observar a rotina de um grupo de pichadores de São Paulo, mas não se contentar em dar voz a essas figuras marginalizadas

Por Reinaldo Glioche

“Urubus”, dirigido por Claudio Borrelli, tenta abordar questões sociais relevantes, como a tensão entre pichadores e policiais, e como a arte, ainda que não manifestadamente, pode ser uma via de protesto para os marginalizados. O filme utiliza uma narrativa fragmentada e não linear para contar a história, mas tem a invasão da 28ª Bienal de São Paulo, em 2008, como epicentro.

Foto: Divulgação

Urubus” acompanha a história de Trinchas (Gustavo Garcez), jovem líder de um grupo de pichadores, que escala os edifícios mais altos da capital paulista para deixar sua marca. Quando ele conhece a estudante de arte Valéria (Bella Camero), a perspectiva sobre suas próprias ações começam a mudar, mas não sem alguns traumas.

Um dos principais problemas do longa é o ritmo inconsistente. Além de se perder nas bifurcações narrativas (o convívio com o crime, o choque de classes sociais, etc). A fragmentação da narrativa resulta em uma falta de fluidez que dificulta o acompanhamento dos eventos (ou mesmo o interesse por eles). Essa desconexão prejudica o desenvolvimento dos personagens – não ajuda dispor de atores que não conseguem extrapolar a caricatura – e a compreensão das relações entre eles, deixando o espectador desorientado em diversos momentos.

Outro ponto comprometedor diz respeito à trama amorosa, que acaba roubando o foco da própria jornada de consciência daquele grupo de pichadores. Tudo isso contribui para uma falta de verossimilhança fatal e que reduz a capacidade do filme de dialogar com o público.

Fosse mais coeso e focado, Borrelli poderia ter apresentado um filme que promovesse um debate franco sobre pichação e toda uma cultura marginalizada na periferia, mas ele entendeu isso apenas como um mote para falar de muitas outras coisas e acabou entregando um filme que entrega pouco ou quase nada.

Abaixo é possível conferir uma das poucas cenas realmente impactantes de “Urubus”. Valéria lê um trecho do livro “Caos”, de Hakim Bey, para convencer Trinchas de que seus rabiscos, na verdade, são arte. Essa poligrafia existencial enseja boas expectativas – eventualmente frustradas – para o que vem a seguir.

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