Novo acerto de Ben Affleck, o filme mostra como os executivos da Nike convenceram Michael Jordan a assinar com a marca, e transformaram o “Air Jordan” em um dos tênis mais vendidos da história
Por Gabriela Mendonça
Houve um tempo, no longínquo ano de 1984, onde a Nike mal era lembrada quando o assunto era tênis. Nas ruas dos EUA, só se viam os Chuck Taylors da Converse e Super-Stars da Adidas. O único lugar onde a marca tinha algum destaque era nas pistas de corrida.
A Nike estava nos pés de medalhistas olímpicos, mas quando se falava em basquete, os jogadores passavam longe. Mas isso mudaria com o lançamento do modelo Air Jordan, nos pés do então promissor, mas desconhecido Michael Jordan.

E é a realização dessa parceria, que transformou o basquete, Jordan e a Nike, o mote de “Air- A História por Trás do Logo”, novo filme de Ben Affleck, e que acabou de chegar ao Prime Video. O longa foca em Sonny Vaccaro (Matt Damon), já conhecido no mundo do basquete, contratado para tentar convencer algum jogador de destaque a assinar com a Nike, mas sem sucesso.
Vaccaro vê algo especial no jovem Jordan, que concluía sua carreira universitária e estava prestes a entrar para o Chicago Bulls. O problema? Ele não queria nem fazer uma reunião com a marca.
Pressionado por Howard White (Chris Tucker), responsável pela divisão de basquete, Rob Strasser (Jason Bateman) diretor de marketing da companhia, e o próprio criador da Nike, Phil Knight (Affleck), ele faz uma aposta arriscada: passa por cima de todos, inclusive do agente de Jordan, David Falk (Chris Messina) e vai falar diretamente com a mãe do jogador.
Deloris Jordan (Viola Davis) era quem cuidava dos interesses do filho e Vaccaro decide tentar convencê-la a ao menos ouvir a proposta que eles têm. A verdade é que Sonny não tinha nada a perder. Se não conseguisse um jogador de destaque para a Nike, veria a divisão de basquete ir para o buraco, e seu emprego junto.

Não é fácil contar o começo de uma história cujo final estamos cansados de saber: o tênis continua sendo um sucesso de vendas, e Michael Jordan se tornou o maior jogador de basquete da história.
Por isso, Affleck não tem grandes pretensões de criar um arco dramático, e ao invés disso, aposta em excelentes atuações e um componente poderoso, a nostalgia. Quase como uma personagem do filme, ela está nas embalagens de doce expostas no 7-Eleven que Sonny frequenta, nas músicas que ele ouve durante suas viagens de carro, e até mesmo na abertura do filme, uma colagem de momentos marcantes do período, como a princesa Diana apresentando seu filho, Jane Fonda dando dicas de exercícios e os caça fantasmas em ação.
Quando o grupo de executivos da Nike se prepara para a reunião com os Jordan, já estamos entregues. Mesmo sabendo o que vamos ver, é impossível não se empolgar quando Peter Moore (Matthew Maher) apresenta a primeira versão do que se tornaria o Air Jordan ainda com menos vermelho do que sua versão final.
Nas mãos de um cineasta como Aaron Sorkin, essa história tomaria outros rumos, focando em disputas de poder, trapaças, e diálogos pretensiosos. Mas Affleck segue um caminho mais divertido e nos entrega um case de sucesso corporativo envelopado em nostalgia, e embalado por sucessos como “Money for Nothing” e “Born in the USA”.

Sua habilidade para trabalhar o talento – e “Air” tem muitos – permite que todos os coadjuvantes tenham seus momentos, até mesmo Marlon Wayans, que aparece por cerca de três minutos como George Raveling, treinador e ex-jogador de basquete.
Viola Davis tem pouco material para trabalhar, mas ainda assim consegue passar a segurança de uma mãe que sabe exatamente o valor do filho, e não vai aceitar que ele seja esquecido em meio a uma disputa de executivos que nunca entraram em uma quadra.
Quem não aparece é Damian Young, escalado como Jordan. Em suas poucas cenas ele mal fala, está de costas ou sua cabeça é cortada. Isso é deliberado, já que Affleck optou por manter a imagem quase endeusada do jogador, e só o vemos em imagens de arquivo do próprio Jordan.
Talvez fosse interessante transformá-lo em um personagem, mas em um filme sobre uma marca, um tênis e alguns executivos brancos, seria até injusto incluí-lo como um mero coadjuvante.