Plataforma indiana tenta se aproveitar da decadência da rede do passarinho azul sob Elon Musk, mas há mais elementos pertinentes a essa disputa do que uma mera rivalidade
Por Beatriz França
“Já garanti meu nome no Koo.” Essa frase foi dita por muitos criadores de conteúdos e pessoas anônimas em meados de novembro de 2022. No fim do ano passado começaram a rodar alguns rumores de que o fim do Twitter estava mais próximo do que imaginávamos e logo uma nova rede se apresentou ao público: o Koo.
Em poucos dias, a rede social recebeu mais de 2 milhões de novos usuários só do Brasil, se tornando, de uma hora pra outra, um possível substituto para o Twitter — que foi adquirido por Elon Musk.
Ao contrário do que muitos pensam, a rede social Koo não surgiu em 2022. Na verdade, a plataforma foi lançada em 2020, mas ganhou destaque só em fevereiro de 2021 quando várias personalidades políticas indianas migraram para a rede social após o governo do país mostrar-se preocupado com a privacidade de dados em outras plataformas, como o Twitter.
No Brasil, o “boom” do Koo foi rápido. Arthur Oliveira, de 28 anos, foi uma das pessoas que correu para garantir seu @ na nova rede social, mas desde o dia que criou nunca mais usou o app.
“Vi tanta gente falando que o Twitter iria acabar que fiquei com receio. Sou viciado na rede do Elon Musk e ao saber que o Koo era bem parecido, já fui conferir. É realmente bem igual, ainda tenho o aplicativo no celular, mas raramente acesso — afinal, o Twitter segue vivo”, admite em entrevista ao Culturize-se.
Nos últimos meses, a queda do Twitter tem ficado mais evidente. Começando pela troca da logo do site: o passarinho azul que todos adoram deu lugar (ainda que temporariamente) a um cachorro Shiba Inu, símbolo da cripto dogecoin (queridinha de Musk).
O que essa possível queda representa para os debates contemporâneos? Como o Koo pode se destacar nesse momento? Isso é o questionamento de muitos e a resposta é que se o Twitter sofresse uma queda significativa, os impactos seriam negativos para os debates contemporâneos.
“O Twitter é uma rede social importante para o debate de diversos assuntos relevantes e, por isso, consideramos que sua queda seja difícil. São mais de 200 milhões de usuários e, caso a queda aconteça em algum momento, esse público iria se dispersar para outras plataformas e, consequentemente, diminuindo as discussões que são tratadas lá”, explica Bruna Miranda, especialista em redes sociais.
Já para Arthur Igreja, especialista em Tecnologia e Inovação, a queda do Twitter está atrelada à uma visão que existia de que “qualquer um que assumisse a plataforma conseguiria fazer uma mudança brusca de uma hora para outra, atingindo um amplo crescimento” e não foi bem assim.
Houve a expectativa de que Elon Musk, o bilionário que transforma tudo que toca em dinheiro, conseguisse transformar a rede social, mas parece que não deu muito certo. “O Twitter enfrentou todo um ciclo de demissões, mudanças na plataforma que trouxeram instabilidades. Algumas propostas não decolaram, como a ideia do selo de ‘verificado’ cobrado. E, somado a isso, os anunciantes não felizes, usuários insatisfeitos. Resumindo: muita turbulência e expectativas não atingidas”, explica ao Culturize-se.
Não dá para prever se a plataforma vai, de fato, cair ou não, mas Caio Souza, de 23 anos, já abandonou a rede do passarinho. O estudante de arquitetura revela que o que era pra ser diversão no Twitter, passou a ser “algo chato e cansativo”.
“Não sei se as pessoas ou as novas ‘regras’ do site após a compra realizada por Elon Musk, mas parece outra rede social. Simplesmente cansei e decidi que seria melhor pra minha sanidade mental desativar a conta”, fala.
Arthur Igreja ainda analisa sobre o espaço no mercado para ambas as redes: é possível que tenha espaço para os dois? “Não vejo o Twitter tão dominante a ponto de só ter espaço para um ou para outro. Na verdade, tem espaço para os dois ‘rivais’ e até outras tantas plataformas”, fala.
Questionado se migrou para o Koo ou se está apenas dando um tempo deste tipo de rede, Caio confirma a segunda opção como sua decisão: “Além de estar cansado dos ‘debates’ e de nem sempre poder opinar sobre os assuntos porque de repente o tweet viraliza e você é atacado, eu perdia muito tempo no Twitter. Agora estou pensando se ingresso no Koo ou não”.
A importância do Twitter nos debates contemporâneos
É fato que ao longo dos anos o Twitter foi conquistando seu espaço em debates importantes para o mundo. É nessa rede social que acontecem diversos pronunciamentos, conversas entre personalidades e a comunidade. Afinal, essa rede, de acordo com Arthur Igreja, é a “maior expoente de notícias em tempo real”.
Quando tem um evento importante, por exemplo, hashtags são criadas e logo estão nos assuntos mais comentados do momento, pois as pessoas querem sim se divertir em uma rede, mas também debater e se informar através dela. “O Twitter sempre foi uma ‘arena’ menos social do ponto de vista do Instagram, Facebook e TikTok, mas sempre teve muita gente apaixonada pelo Twitter e o enxerga como um espaço para debater e se informar. E com isso, sim, ele continua sendo muito importante”, explica o especialista.
Arthur Igreja ainda pontua que, caso ocorra uma queda drástica da rede social do passarinho azul, esses debates não vão, simplesmente, acabar: “O Twitter é importante, mas não é tudo. O fato é que os consumidores encontram seus caminhos, que é o que acontece quando uma rede social muda suas políticas e os usuários vão para outras. Esse espaço é muito dinâmico e suscetível a mudanças, mas os debates continuariam”.
Não é novidade que após a compra do Twitter por Elon Musk acabou desanimando muitos usuários a continuarem na rede — como já mostramos ao longo desta reportagem — e o especialista em Tecnologia e Inovação explica que esse feito tem um “componente gigante nisso tudo”.
“Havia a expectativa visivelmente frustrada e a instabilidade, pois uma hora o Elon Musk fala uma coisa e, de repente, tudo muda completamente. Por exemplo, é estranho falar de uma empresa que dias atrás trocou o logo e colocou uma criptomoeda para depois explicar que se tratava de uma brincadeira. Não dá para imaginar essa ‘brincadeira’ com incontáveis empresas. E na hora da prática, as coisas não estão acontecendo”, fala.
Os planos do Koo para o Brasil
Por mais que o Koo tenha caído no esquecimento de alguns, personalidades seguem atualizando a rede social do passarinho amarelo. Felipe Neto, por exemplo, foi um dos primeiros do País a ingressar no app, tem mais de 800 mil seguidores e teve até a conta hackeada — mas já está tudo nos conformes. O presidente Lula também usa a rede e compartilha os mesmos conteúdos da sua conta oficial do Twitter.
Mayank Bidawatka, cofundador do Koo, revela ao Culturize-se que tem planos para o Brasil ao longo de 2023. Há alguns meses, a rede social lançou no País o primeiro programa de fidelidade, onde os usuários podem ganhar ‘Koopons’ todos os dias por meio de suas atividades. “Lançamos este programa porque somos uma plataforma inclusiva e acreditamos que todos que fazem parte da plataforma devem se beneficiar de seu crescimento — sejam usuários, criadores ou empresas”, fala.
Mayank também conta que sua rede social é rica em recursos que prioriza o usuário e tem muitos recursos que “nenhuma outra plataforma possui”, como escrever com teclado de idiomas, limite de 500 caracteres, publicar em vários idiomas de uma só vez, agendamento de data e hora, editar mensagens e muito mais.
“Nos tornamos a primeira plataforma no mundo a permitir que os criadores escrevam e rascunhe postagens usando o ChatGPT em inglês. E este ano tem mais novidades, como monetização para creator, salas de bate-papo públicas, ferramentas de IA integradas como anexos e mais”, revela.
Sobre a semelhança entre o Koo e o Twitter, o cofundador da rede social indiana fala que a única coisa em comum entre eles é que ambos são “plataforma de microblogging”: “Temos experiências muito imersivas que permitem aos usuários se conectar com pessoas que falam idiomas diferentes”.
“No Koo, nos preocupamos em ser inclusivos em pensamento e ação. Por exemplo, fornecemos verificação vitalícia gratuita para todas as personalidades notáveis que se qualificam como uma marca de reconhecimento e as protegemos de fakes para que possam compartilhar suas ideias com seguidores. Nunca cobraremos por um recurso que a internet deveria fornecer gratuitamente”, continua.
Para o crescimento do Koo em 2023, Mayank Bidawatka conta que será, principalmente, orgânico através do “boca a boca e de algumas parcerias estratégicas em todos os países”. O cofundador frisa que a plataforma foi construída com uma “abordagem de primeiro usuário”, onde cada decisão é feita usando uma “primeira lente do usuário” e que é um espaço voltado para as pessoas “formarem uma comunidade”.
“Tudo que é feito no Koo está profundamente ligado em ser justo e útil para todas as partes interessadas, ou seja, continuaremos a fornecer recursos para que todos saiam ganhando”, explica o indiano.