Por Reinaldo Glioche
Gaúcha e roteirista desde 2004, Cristiane Oliveira se prepara para lançar comercialmente seu segundo longa-metragem como cineasta, “A Primeira Morte de Joana”, que está pronto desde o fim de 2019, mas por conta da pandemia experimentou um estranho processo de suspensão, embora tenha participado – e sido premiado – em diversos festivais mundo afora.
Ao Culturize-se ela admite o interesse em investigar em uma família de mulheres toda a convulsão de descobertas que se dá no universo feminino. “Eu acho que a formação da nossa identidade passa por muitas descobertas e me interessava investigar isso com ‘Joana'” (o filme, embora a protagonista homônima também faça uma investigação no longa).
Na trama, essa menina de 13 anos se lança em um processo investigativo na própria família, mas também na comunidade, para entender por que a recém falecida tia Rosa jamais namorou, ou ao menos apresentou um namorado a família.
Cristiane conta que a multiplicidade da mulher sempre foi um norte para esse segundo projeto. Desde o “compartilhamento de memórias” com a atriz Silvia Lourenço, com quem escreveu o roteiro, o objetivo era tatear os “fatores que cerceiam os afetos. Que os moldam”.
A cineasta revela uma expectativa agora que o filme está para nascer no mundo, ao menos no contexto do circuito comercial. “Eu gostaria muito que o público olhasse para essas mulheres dentro de suas complexidades”, diz sobre Joana, sua mãe Lara e sua avó Norma. Três gerações que se completam, se entranham e se repelem. “A investigação da Joana tem muito de escuta. Como eu consigo acolher essa mulher? O processo de amadurecimento da Joana é o nosso processo de amadurecimento como sociedade também.”
Um olhar sobre o conservadorismo
“É interessante observar como as vezes o conservadorismo não vem de onde a gente espera”, provoca Cristiane, ciente de que essas mulheres múltiplas também carregam as chagas de um machismo enraizado. Ela observa, ainda, que o filme irá tocar de maneira diferente “de acordo com os recortes etários” e os “lugares da vida” em que cada um se encontra.
Mas o conservadorismo é mesmo uma força presente, a qual a protagonista de Cristiane luta sem nem mesmo se dar conta, no filme. A cineasta recorre a um exemplo externo para reforçar seu raciocínio. “Na França, o filme foi lançado e liberado para todas as idades e aqui (no Brasil) é para maiores de 14 anos. Outros países conseguem lidar de uma forma mais integral com a sexualidade: afetos, respeito, identidade, entender o que é consenso, etc”. A classificação etária, segundo a diretora, indica um atraso de 14 anos.
O terceiro filme
Com “A Primeira Morte de Joana” finalmente chegando aos cinemas, as atenções vão se voltar para o terceiro filme que, não por acaso, fecha uma trilogia – ainda que informal. “Trata do despertar de uma mulher madura, que vive uma situação na família, que balança as estruturas dela e ela vai ter que se reencontrar”, adianta Cristiane Oliveira.