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“The Mandalorian” se perde e entrega temporada mais fraca até agora

Série abandona seu protagonista e tem dificuldades em desenvolver novas narrativas em seu terceiro ano

Por Gabriela Mendonça

Durante duas temporadas, “The Mandalorian” levou os espectadores por todos os cantos da galáxia, em episódios que muitas vezes funcionavam sozinhos. O mandaloriano Din Djarin (Pedro Pascal), com a missão autoimposta de proteger Grogu (Baby Yoda) percorreu seu caminho ora fugindo, ora indo de frente aos seus inimigos, ou melhor, o inimigo, Moff Gideon (Giancarlo Esposito).

Na sua peregrinação para manter Grogu em segurança, fez inimigos e amigos, criou aliados improváveis e cruzou com outros mandalorianos, espalhados pela galáxia depois da destruição de sua terra natal, Mandalore. Porém, sempre foi um lobo solitário, encontrando ocasionalmente um grupo de sua religião que vivia escondido em Navarro. 

Divulgação/Disney

Mesmo com episódios únicos, que apresentavam um conflito no começo, para resolver no final, existia uma linha narrativa que conectava toda a temporada: a ameaça de Gideon capturar Grogu e fazer experimentos em favor do já combalido, mas não morto Império. O perigo iminente e a possibilidade de ser capturado era o que colocava a dupla em movimento, vivendo novas aventuras e criando um laço familiar no processo. O arco termina ao final da 2ª temporada, quando Grogu é entregue a Luke Skywalker (Mark Hamill) para ser treinado como Jedi. 

Vemos Din arriscando seu papel como mandaloriano só para poder tirar o capacete e oferecer uma despedida emocionante de seu protegido. 

Como, então, seguir a história de Din, depois de encerrar esse arco, onde o herói vence, deixa seu pupilo em segurança e derrota o pior inimigo? Haviam muitas possibilidades, mas o criador da série, Jon Favreau optou pela forma mais fácil, repetida à exaustão nas trilogias cinematográficas de Star Wars: voltar ao começo, e fazer tudo de novo. 

Assim, a terceira temporada mostra que Moff Gideon não foi derrotado, que o Império tenta ressurgir nas sombras e que o baby Yoda está de volta. Quem acompanhou “O Livro de Boba Fett” pôde ver como, quando e porque o bebê retorna para Din, mas quem não quis assistir a série, teve só que aceitar que eles estavam juntos de novo. 

Assim, a terceira temporada começa como as anteriores, buscando aventuras distintas a cada episódio, com um porém que a torna imediatamente inferior às anteriores: não há uma ameaça. Depois de perder o status de mandaloriano, ele promete se redimir, ao se banhar nas Águas Vivas das Minas de Mandalore que, segundo a lenda, foram destruídas. Essa poderia ser a missão do personagem na série, mas ele consegue realizar seu objetivo logo no 2º episódio, e passa boa parte do tempo perdido. 

Divulgação/Disney

É como se Favreau não soubesse o que fazer com ele, ao optar por destacar todo o grupo nesta temporada, ao invés de só um mandaloriano sozinho. Din só descobre do retorno de Gideon no penúltimo episódio, e ao longo da temporada anda sem rumo com Grogu, se unindo aos mandalorianos remanescentes em um esconderijo, e depois a Bo-Katan (Katee Sackhoff). 

A narrativa da terceira temporada se perde completamente, e um episódio solto que serviria para indicar a fragilidade da Nova República, entrega conteúdos que são abandonados imediatamente. Não existe motivação para o personagem, nem evolução na história, sem contar os diálogos rasos. 

Os diretores já haviam indicado que nesse terceiro ano Din não seria o único protagonista e, de fato, Bo-Katan assume uma posição mais central. O problema é como isso se desenvolve. A temporada começa com Din tentando se redimir depois de tirar o capacete, retornando a Mandalore para se banhar nas águas sagradas. 

Quando ele chega lá, logo é capturado por um dróide e salvo por Bo. Em seguida, é pego por um monstro quando se banha, e salvo novamente por Bo. Inconsciente, o protagonista da série, devoto de sua religião e disposto a tudo para provar que merece sua armadura de Bhaskar, ele está desacordado quando Bo-Katan vê o Mitossauro, símbolo mitológico da cultura mandaloriana. 

A ideia fica clara: é Bo que dará prosseguimento a história. Mas para fazer isso, o protagonismo de Din foi sacrificado, a ponto do personagem abrir mão do sabre que conquistou e anunciando que servirá a Bo. Em geral, personagens evoluem ao longo das temporadas, nesse caso, o mandaloriano parece fazer o oposto: perde suas motivações, perde o status de líder, perde o papel de reerguer a sociedade, coisa que Bo nem mesmo acreditava ser possível.  

Jon Favreau e companhia têm planos: embora ainda não anunciado, o papel de Pedro Pascal como Din deve ser diminuído, ou potencialmente eliminado da série, tendo um desfecho próprio no cinema. “The Mandalorian”, então, deve  seguir com Bo-Katan como líder. O que parece ser uma boa solução para continuar desbravando a história desse povo, que tenta retomar sua casa e seu prestígio. Mas que, durante a 3ª temporada, foi mal executada do começo ao fim. 

A sorte de “The Mandalorian”, desde o primeiro episódio ao último, é contar com o personagem mais carismático da galáxia. É impossível não se derreter por Grogu, talvez por isso ele retorne sem mais explicações sobre o fracasso de seu treinamento Jedi. Desde seu treinamento com os mandalorianos, até as possíveis primeiras palavras e o uso de uma armadura dróide, ele rouba a cena durante a série inteira, e só não se comove com essa criaturinha quem não tem coração.  

Divulgação/Disney

Depois de seis episódios arrastados, cheios de buracos e sem uma narrativa central, cabem aos dois últimos: já com a ameaça de Gideon, transformar e tentar dar um fim digno da série que conquistou os fãs em sua estreia em 2019. As cenas de ação, especialmente do último episódio, são mais interessantes já que há algo a perder. 

Apesar da saída final ser um retorno ao passado – eliminar Moff Gideon -, agora os mandalorianos o fazem juntos, dando início a uma nova jornada para esse povo. 

Mas nem mesmo os dois últimos episódios conseguem compensar uma temporada fraca, que vai precisar reaprender a evoluir para os próximos 4ª e 5ª anos, já confirmados pela Disney.

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