Cinema

Festival reúne distribuidoras independentes para dar visibilidade a filmes menores

Realizado pela Sofá Digital, o Festival Filmelier no Cinema busca dar coesão e visibilidade a filmes menores em uma escala mais nacionalizada

abril 17, 2023

A crise no setor exibidor não é nenhuma novidade, especialmente no Brasil com ingressos caros. Outrossim, as distribuidoras independentes sofrem em um sistema de competição desleal com blockbusters americanos. A pandemia ensejou novas estratégias como a Semana do Cinema com ingressos a preços populares, mas é preciso mais para revitalizar um setor em busca de dias melhores.

É nesse contexto que surge o Festival Filmelier no Cinema que começa a circular no Brasil a partir da próxima quarta-feira (19). Ao longo de três semanas, até 10 maio, o evento vai exibir 20 filmes inéditos, plurais e promissores que têm potencial para dialogar com diferentes públicos.

O circuito exibidor será constituído basicamente de salas independentes como como Petra Belas Artes e Reserva Cultural, em São Paulo, mas também tem o apoio de multiplexes como Cinépolis e Kinoplex.

Os filmes, todos inéditos no País, são das distribuidoras Synapse Distribution, Imovision, A2 Filmes, Mares Filmes, BF e Pandora. O evento nasce, portanto, sob o signo da colaboração sob a tutela da Sofá Digital e com o mantra de que a união faz a força.

“Enxergamos o festival como uma plataforma para apresentar filmes independentes em salas e cidades fora do circuito tradicional que os receberia, com o objetivo de atrair novas audiências para os cinemas”, diz Fabio Lima, CEO da Sofá Digital.

As cidades que recebem o festival são São Paulo, Campinas, Ribeirão Preto, São José dos Campos, Rio de Janeiro, Niterói, Belo Horizonte, Brasília, Goiânia, Palmas, Cuiabá, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Caxias do Sul, Salvador, Fortaleza, São Luís, João Pessoa, Recife, Teresina, Natal, Aracajú e Manaus, um total de 24 municípios.

É possível conferir programação, salas e horários no site do evento.

Os filmes

O Culturize-se já assistiu a quatro filmes que integram o festival. Há produções de 18 países dos cinco continentes, que estrearam em festivais internacionais como Sundance, Toronto, Cannes e Veneza; e diretores renomados como Amos Gitaï, Jafar Panahi e Phyllida Lloyd.

“Blue Jean”

Premiado no Festival de Veneza, de 2022, o filme se passa em 1988 e tem como foco a personagem Jean (Rosy McEwen), uma professora lésbica de educação física que ainda “vive no armário” e passa a experimentar um turbilhão emocional quando uma nova aluna, também lésbica, surge em sua aula, sem medo de viver sua sexualidade, mas sofrendo muitos reveses por conta disso.

O longa de Georgia Oakley é um drama muito bem executado que conflita com engenho os paradigmas sociais da era Thatcher com a ebulição interna da protagonista.

“Meu Vizinho Adolf”

Um solitário e mal-humorado sobrevivente do Holocausto se convence de que o seu novo vizinho é nada menos que Adolf Hitler. O longa é ambientado na América do Sul dos anos 60. A produção recebe bem o humor, principalmente o tom farsesco, mas não se trata de uma comédia no sentido tradicional do termo. A relação entre o possível Hitler, vivido pelo sempre ótimo Udo Kier (“Bacurau”) e o judeu interpretado por David Hayman é um achado de dramaturgia.

“Querida Zoe”

Esse coming of age tem como grande atrativo a presença de Sadie Sink (de “Stranger Things”e vista recentemente em “A Baleia”). Aqui ela faz uma jovem que precisa se situar depois da morte da irmã mais nova, na qual exerceu certa influência. Lidar com a culpa e com o distanciamento da mãe a aproxima do pai biológico, um tipo que ainda não se ajeitou na vida. É o tipo de filme bonitinho e ordinário, mas Sink volta a exibir um talento bruto que merece confete.

“A Noite do Dia 12”

Vencedor de seis prêmios César em 2023, incluindo Melhor Filme, o longa acompanha Yohan (Bastien Bouillon), uma investigadora que se vê obcecada por um estranho caso de assassinato. Com uma dinâmica de série procedural, o longa dirigido por Dominik Moll tenta organizar sem muito brilho um comentário sobre misoginia e como a estrutura social favorece a irresolução de crimes de ódio contra mulheres.