Tom Leão
Dia desses, estava conversando com camarada meu, sobre Billy Joel, de como eu quero, um dia, ver um dos shows que ele faz, anualmente, no Madison Square Garden, em Nova York. Todo ano, sempre no segundo semestre, Joel faz uma residência no famoso templo da música e dos esportes, com 10 ou 12 shows, cujos ingressos se esgotam em pouco tempo. Acabei falando para o amigo sobre a série “The Boys” (Prime Video), no qual um dos personagens principais, o Hughie (Jack Quaid) é fã do ‘Piano Man’ (como Joel é conhecido). Meu amigo nunca viu a série e não sabia do que se tratava. Mas, achou curioso como Joel foi introduzido para as novas gerações, por conta das citações na série; que, na primeira temporada, sobretudo, encerrava episódios com alguma música dele.
E, antes de anunciar as datas de sua residência anual no MSG, Billy Joel anunciou uma turnê em conjunto com uma das cantoras do Fleetwood Mac, Stevie Nicks. A turnê, batizada ‘Billy Joel/Stevie Nicks: Two Icons, One Night Tour’, começou em 8 de abril, no AT&T Stadium, em Arlington, no Texas, e irá até novembro. Só nos EUA, sempre em estádios. A maioria dos primeiros shows, será na Costa Leste americana, com uma dezena de datas já marcadas e ingressos caríssimos!
Como a vida é feita de coincidências, no dia seguinte a conversa sobre BJ, apareceu para mim, no Twitter, numa conta de álbuns históricos, o aviso do aniversário do primeiro disco que obtive do Piano Man, o agora clássico ‘Glass Houses’ (1980, seu sétimo trabalho). E, o modo como eu cheguei nele, e BJ até mim, foi inusitado: simplesmente, escrevi para um programa de rádio, que estava dando o disco para quem respondesse a uma pergunta lá (não faço ideia de qual era) e, ouvi meu nome dito, no dia do final da promoção. Fui ao prédio da rádio (a extinta rádio 98 FM, na Glória, zona sul/central do Rio) pegar o meu Long Play na portaria. E, desde então, virei fã do cara, nascido William Martin Joel, em 1949, no Bronx, NY.
E, não é difícil imaginar como eu, na época um punk boy, se encantou com ‘Glass Houses’. A partir da capa, que mostra Joel de jaqueta de couro, se preparando para jogar uma pedra numa casa com a fachada quase toda de vidro, até o tracklist — ele não passaria batido para ninguém que gosta de rock, e de boas canções. O disco, abre com o ruído da pedra estilhaçando o vidro, sugerido na capa, e introduz uma das mais potentes e cativantes canções do pop/rock, ‘You may be right’.
Não era o tipo de som que eu ouvia na época, estava mais na do Clash e similares (lembro que fui à rádio usando uma camiseta do Pink Floyd, com a capa de ‘The Wall’, com o símbolo da anarquia pichado por cima do muro). Acompanhando as letras no encarte, dava para abstrair aquele rock mais bem comportado da excelente banda que acompanha BJ no disco, de levada mais ‘chacundum’, e com tudo tocado certinho. Meus ouvidos não estavam acostumados a isso. Mas, Joel, provou que, podia ser mais do que um baladeiro (já havia feito sucesso com as belas ‘Just the way you are’ e ‘Honesty’). E o fez.
O curioso é que, em “Glass Houses”, o Piano Man quase não toca piano. Ele canta quase todas as músicas, naquele jeitão rock´n´roll, a la Elvis. Sobretudo, em faixas como “Sometimes a Fantasy”, e “Still rock and roll to me” (a sua primeira música a emplacar o topo da parada de singles da ‘Billboard’), que faz uma leve crítica à new wave. Mas, não demora muito, e chega o momento em que BJ mostra todas as suas qualidades de cantor e compositor e pianista na faixa, “Don´t ask me why”, que foi a que rolou aqui, nas rádios que não tocavam rock. Mais adiante, encarna o pianista de fato, com “All for Leyna”, que tem aquela pegada que, aqui, foi muito usada por Guilherme Arantes (o nosso Billy Joel?) e pelo Elton John dos primórdios.
Em suma, ouvi tanto ‘Glass Houses’ (um dos discos que sei todo o tracklist de cor), que o vinil nacional — meio vagabundo, de prensagem ruim — gastou, e acabei comprando uma cópia importada, que tenho até hoje. Se não tenho as camisetas bacanas com turnês de Billy Joel, que o Hughie exibe em “The Boys”, pelo menos, tenho a música. E o desejo de, um dia, estar lá no MSG, vibrando com suas canções.