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“Tetris” transforma história burocrática da Guerra Fria em trama de aventura e amizade

Filme estrelado por Taron Egerton mostra uma improvável amizade em meio a disputa burocrática pelos direitos do famoso jogo durante a União Soviética

Por Gabriela Mendonça

Uma história sobre contratos e patentes, que se passa nos anos 1980, com a Rússia como pano de fundo, tem tudo para render alguns bocejos em quase duas horas de filme. Mas não na mão de Jon S. Baird (“Filth”). O diretor consegue transformar um imbróglio burocrático em uma divertida aventura em “Tetris”, filme recém-lançado pela Apple TV+ sobre o famoso jogo de videogame. 

A história acompanha Henk Rogers (Taron Egerton), um holandês criado nos Estados Unidos, mas que vive com sua família no Japão, onde tem uma empresa de desenvolvimento e distribuição de jogos. 

Ao tentar emplacar uma péssima criação própria, ele se depara com o revolucionário Tetris e, depois de conseguir os direitos de distribuição do jogo no Japão, começa uma batalha com gigantes da tecnologia e, sim, com a União Soviética. 

Divulgação/Apple TV+

Baseado em uma história real, o filme mostra como Henk consegue um acordo com a Nintendo para distribuir o jogo no revolucionário Game Boy, prestes a ser lançado no mundo, em 1989, só para ver seu destino cair por terra quando descobre que, na verdade, não tem direito a nada. Ninguém tem. 

Na Rússia, em meio a Guerra Fria, Alexey Pajitnov (Nikita Efremov) é um funcionário do governo que, nas horas vagas, desenvolve jogos. Seu Tetris vira um sucesso no país, com cópias distribuídas em disquetes pelas repartições públicas. 

Quando Robert Stein (Toby Jones) procura lançamentos de jogos eletrônicos no país soviético, ele se depara com o jogo dos blocos de quatro peças em diferentes formatos, que vão sendo empilhados para formar linhas. Ele logo adquire os direitos para distribuir, mas entre falhas na comunicação e um país disposto a não ser usado pelo seu inimigo, o que era um contrato firmado se torna uma nuvem cinza e as disputas pelo Tetris. 

Os jogadores vão sendo apresentados, em forma de antigos jogos de videogame pixelados, enquanto os personagens correm contra o tempo para adquirir o sucesso russo antes do lançamento do primeiro videogame portátil, tudo isso enquanto são espionados de perto pela KGB. Além de Henk e Stein, o bilionário Robert Maxwell (Roger Allam) e seu filho Kevin Maxwell (Anthony Boyle) também entram na batalha. 

Alexey Pajitnov (Nikita Efremov) e Henk Rogers (Taron Egerton) | Divulgação/Apple TV+

Mas é Henk quem dá o tom na narrativa: o jovem e ambicioso pai de família, que aposta tudo, inclusive sua casa, no novo sucesso, e decide partir sozinho para a Rússia em busca do que quer. Ele conhece Alexey e os dois criam uma relação de amizade e, em muitos momentos, têm as vidas refletidas um no outro. 

Os dois são pais de família e tentam prover um futuro melhor para os filhos. Porém, enquanto um vive uma realidade de pouca liberdade, onde tudo é proibido, o outro simplesmente não aceita um não como resposta. 

O clima cinza e frio da Rússia se contrasta, ao longo do filme, com as intervenções visuais coloridas do videogame, tornando pouco a pouco a história mais viva. Como lembra Alexey quando Henk o visita em sua casa, a Rússia é como sua literatura, fria e escura por fora, mas também romântica e inspiradora. 

Divulgação/Apple TV+

É justamente essa dualidade que o filme trabalha tão bem – a estética divertida dos jogos oposta a cinza Moscou – o falante e extrovertido Henk, criando laços improváveis com o quieto Alexey. É como o próprio Tetris: arte e matemática. 

Egerton, que por algum motivo ainda não se tornou uma estrela de Hollywood, é cativante como o persistente e simpático Henk, e o filme tem um andamento rápido com ares de espionagem e uma sequência de perseguição digna dos filmes de ação, que faz com que duas horas de debates sobre contratos se tornem uma emocionante saga, com direito a mocinhos para torcer e uma amizade improvável. 

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