Patrícia Froelich
O conceito de modernidade líquida fora cunhado pelo sociólogo polônes Zygmunt Bauman, para quem a sociedade pós-moderna é volátil em todas suas camadas, nada mais é feito para durar, desde bens materiais até as relações interpessoais, estas últimas cada vez mais voláteis e menos profundas. Recentemente tornei a instalar em meu celular o aplicativo Tinder e diversas reflexões pululam minha mente desde então. Como é fácil encontrar pessoas online e concomitantemente esquecê-las! O aplicativo em questão propõe patrocinar relacionamentos amorosos e/ou afetivos e congregar comunidades. Mas em dois cliques é possível desinstalar o mesmo e as conexões se esvaem. Em segundos, sem remorso ou pesar, bloqueamos alguém!
É importante sinalizar que o uso dos aplicativos possui matizes culturais e recortes de gênero, bem como eleição pela monogâmica ou não, biografias inusitadas e objetivos distintos a depender do usuário. Por isso lembro do sociólogo e da teoria sobredita, ao passo que nossa sociedade desenvolvida carece de solidez e conexões reais. Você já usou um app de relacionamento e sentiu um profundo vazio após? Qual o ônus e o bônus das conexões virtuais? O que é uma relação afetiva e como mensurar sua intensidade? Andamos carentes do que? Qual o match perfeito? É possível mensurar a intensidade do virtual e do ‘real’?
Como de praxe não venho trazendo respostas, meu intento é promover análises, autoconhecimento, responsabilidade afetiva, energia de criação, entre outras coisas que nos movimentam. Já utilizei da internet como meio para busca de afetos, porém minha vida romântica não é um bom exemplo, há muita toxicidade no enredo. Outrossim, a busca por afinidades parece mover a espécie humana desde sempre. Você se lembra da rede social orkut e suas comunidades? Nostalgia pura e exemplificação do efêmero em nossa existência no ciberespaço:
Em nosso mundo de furiosa “individualização”, os relacionamentos são bênçãos ambíguas. Oscilam entre o sonho e o pesadelo, e não há como determinar quando um se transforma no outro. Na maior parte do tempo, esses dois avatares coabitam embora em diferentes níveis de consciência. No líquido cenário da vida moderna, os relacionamentos talvez sejam os representantes mais comuns, agudos, perturbadores e profundamente sentidos da ambivalência. É por isso, podemos garantir, que se encontram tão firmemente no cerne das atenções dos modernos e líquidos indivíduos-por-decreto, e no topo de sua agenda existencial (…). Estar em movimento, antes um privilégio e uma conquista, torna-se uma necessidade. Manter-se em alta velocidade, antes uma aventura estimulante, vira uma tarefa cansativa. Mais importante, a desagradável incerteza e a irritante confusão, supostamente escorraçadas pela velocidade, recusam-se a sair de cena. A facilidade do desengajamento e do rompimento (a qualquer hora) não reduzem os riscos, apenas os distribuem de modo diferente, junto com as ansiedades que provocam. (BAUMAN, 2004, p.9-13).
A tecnologia e o desenvolvimento da sociedade contemporânea são louváveis, mas vivemos com ansiedade em níveis patológicos. Como equilibrar a velocidade societal com nosso tempo interno das coisas? Você concorda com o sociólogo em relevo e sua noção dos relacionamentos fugazes? Já bloqueou pessoas para esquecê-las? O que é amor para você e qual a importância desse sentimento para sua vida? O que é significativo para a sua pessoa? A internet promove encontros e relacionamentos saudáveis?
Por falar em estrutura societal e amores fluídos, preciso ponderar em acréscimo que o capitalismo fomenta tal sistema. Passamos parte do nosso tempo de vida adulta trabalhando e consumindo. Assim, o tempo para cultivar relações se escasseia no peso da rotina e dos boletos. Como você ocupa seu tempo? De que forma nutre seus relacionamentos? Do que se alimenta o amor? Qual aplicativo de relacionamento você já usou e recomenda (ou não)? Querid@ leitor(a), espero que este escrito tenha reverberado em alguma instância do seu ser e lhe faça sentir; Que você encontre o amor, sobretudo o próprio! Lhe intenciono ócio criativo, contemplação da natureza, tempo de qualidade, prazer carnal e emocional, dinheiro para psicoterapia, comidas apetitosas, corpo funcional, encontros salutíferos, doçuras mil e resiliência. Vamos buscar sentido(s)?! Até a próxima semana.