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Supérfluo narrativamente, 4º “John Wick” se incumbe de canonizar protagonista no gênero

Novo capítulo da franquia que revolucionou a ação repete equívocos do 3º filme, ao tatear derivados, mas investe na áurea divina do personagem principal

Por Reinaldo Glioche

Não é um concurso, mas Keanu Reeves fala ainda menos nessa 4ª incursão na franquia. Essa curiosidade resvala no minimalismo que sempre foi uma característica da série, e aqui a ação se desenvolve a partir de um fiapo de trama – que por sua vez se desenvolve com sinais de fadiga desde o 1º longa. Mas “John Wick 4: Baba Yaga” é apenas pretensamente minimalista.

Na verdade, o filme tem muitas ambições. Ser um case de cinema de ação ainda mais impactante do que os longas que o precedem – daí a exagerada duração de 2h40m -, canonizar John Wick no cinema de ação, pavimentar de vez caminhos múltiplos para os derivados do agora universo John Wick na TV e no cinema e, quem sabe, ofertar um desfecho para a saga desse viúvo enlutado que foi obrigado a sair da aposentadoria porque o filho de um gangster russo atou seu cão.

Foto: Divulgação

Os parcos diálogos do protagonista, portanto, são uma alcunha nessa incrível autoridade que a franquia estabeleceu no gênero. As cenas de luta continuam maravilhosamente bem coreografadas e os ângulos inusitados seguem presentes, mas há menos inventividade e violência – o custo da popularidade. São essas cenas de ação, muitas delas lapidadas de games de tiro, que representam a barganha da realização com a audiência para relevar as licenças tomadas no curso da narrativa.

Filmado como uma divindade aqui, John Wick demora para entrar em ação. Ele sequer está presente nas primeiras lutas – fato inédito na série, o que demonstra que ele já não é mais o foco. A atenção agora é ao universo e a alta mesa (high table), que controla a confraria de assassinos, parece ser mais do que nunca o eixo central aqui. Não à toa, o filme lança mão de algumas prolepses do que está por vir.

Graphic Novel

Esse status de HQ visual atingido pela franquia com uma linguagem disruptiva e um esmero fotográfico descomunal é algo realmente notável se considerarmos que Marvel e DC fazem sucesso no cinema atualmente pautando suas produções pelo realismo.

John Wick, personagem e filmes, atingiram um grau de estilização raro na Hollywood atual e isso é muito elogiável, mas não deixa de ser imperioso registrar que, embora os quatro filmes sejam bons, a série chega a seu ato final em um tom menor. A convalidação do cinema de ação se deu nos dois primeiros filmes, mas a criação do universo a partir do terceiro, se deu de forma capenga.

Os dogmas de John Wick, a tragédia, a vingança, o marido devotado, são apressadamente recuperados para ajudar a tangenciar o que se precisa tangenciar. Ocupando a si mesmo, o longa acena para um John Wick messiânico no cinema de ação para se apartar dele favorecendo um universo expandido. Escolha no mínimo questionável para um longa que se organiza em torno da aceitação da mortalidade, e de ações e consequências.

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