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Presença feminina na política ainda é afetada por estigmas

Patrícia Froelich

O tecido da política partidária no Brasil apresenta diversas vicissitudes e requer traquejo ao entrar neste âmbito. O poder é um elemento que está em constante disputa na sociedade humana, logo, o campo político compreende um jogo de embates, onde há pouca colaboração e muita disputa. Sabemos que o poder permeia todas as instâncias e é objeto de vaidade. Como socióloga de formação, este tema é familiar[1], outrossim tratá-lo sob o prisma de gênero é desafiador.

Ao mencionar a temática que ancora este escrito, reverbera em minha mente a imagem da Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro (PSOL), alvejada por disparos em 2018; a primeira presidenta Dilma Rousseff e seu posterior impeachment fraudulento; Michele Bolsonaro e a figura retrógrada da esposa troféu; Manuela d’Ávila e os constantes ataques para com sua pessoa, entre outras. Mas o que significa para a costura societal ter mulheres chefiando? Quando e quanto importa a representatividade na política? O poder não tem insígnia per si e permeia todos os lugares, mas o patriarcalismo o costurou legitimamente sob os homens, lhes treinando para tal galgo. A mulher, por outro lado, foi historicamente convidada a ceder aos mandatórios masculinos. Revolucionar é romper estereótipos, ou, no mínimo, trabalhar em prol de tal.

Descreva em sua mente como é uma mulher da política; há um padrão que reforçamos em nossa psique? Quando problematizamos acerca das mulheres no âmbito partidário precisamos observar e refletir se a categoria contempla as mulheres trans, negras, indígenas, entre outras origens étnicas e identificações. Por referir mulheres na política[2], um ponto de destaque são as mudanças legislativas provocadas por elas no poder. Em outras palavras, depois que as mulheres conquistaram uma cota parlamentar, as legislações que surgiram foram mais impactadas pela presença feminina, como projetos de lei que aventam paridade, direitos na maternidade, entre outros.  

A ministra do Planejamento e ex-candidata à Presidência do Brasil, Simone Tebet, uma das principais figuras femininas na política brasileira | Foto: Agência Brasil

Um livro que auxilia a compreender e por conseguinte questionar o tecido político do país, é uma obra escrita em meados de 2017[3], com um conjunto de autoras de garbo, livro de autoria 100% feminina/feminista. Na obra em relevo as distintas matizes de poder são problematizadas e a esperança se desenha como uma alternativa embasada.

A presença das mulheres na política[4] em maior escala é importante porque promove à política partidária e com isso se conjecturam indicadores sociais e econômicos, bem como a presença delas e seu respectivo cabedal de vivências. Ter mulheres em cargos de decisão significa outros prismas de análise e atuação, assim sendo, quem colhe os frutos dessa diversificação em primeira e última instância é a estrutura societal. Você já votou em uma mulher? Qual figura feminina pública você admira?

Você que me lê, já cogitou a possibilidade de se candidatar a um cargo eletivo? Trata-se de um compromisso com grande carga analítica e pragmática. Quando as mulheres não ocupam esses espaços de mando, elas/nós ficam(os) à margem da elaboração de políticas públicas, sobrecarregando a nossa jovem e frágil democracia. Ora anseio e registro por mais mulheres na política e por conseguinte propagando sua voz e nossas pautas! A sociedade muda com pequenos cataclismas revolucionários e a nós cabe incitá-los.


[1] Familiar não quer dizer simples, escrever sobre política exige muitas ruminações e mobiliza crises de ordem criativa e ideológica.

[2] Interlúdios com a amiga e jurista Carolina Padoin.

[3] TEM SAÍDA? Ensaios críticos sobre o Brasil. Org. Winnie Bueno, Joanna Burigo, Rosana Pinheiro-Machado, Esther Solano. Este livro conta com um capítulo de Mariele Franco (socióloga e vereadora in memoriam), intitulado ‘A emergência da vida para superar o anestesiamento social frente à retirada de direitos: o momento pós-golpe pelo olhar de um femisnita negra’.

[4] Vídeo para embasar o tema: 3 razões pelas quais as mulheres brasileiras não estão na política | Mônica Sodré |- https://www.youtube.com/watch?v=d_cmGEWhpTw.

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