Especial de humor do comediante foi 1ª transmissão ao vivo da plataforma de streaming nos EUA e já está disponível no Brasil. Chris Rock pauta evento com piadas duras e provocativas
Por Reinaldo Glioche
Era grande a expectativa por “Indignação Seletiva”, novo especial de comédia de Chris Rock para a Netflix. Em parte porque seria o 1º evento ao vivo e global (embora não tenha sido global e a empresa não tenha fornecido justificativa oficial para isso) da Netflix, mas fundamentalmente porque seria a primeira vez que o comediante se dirigiria ao famigerado tapa do Oscar de maneira acessível a todo mundo.
Chris Rock não decepcionou. “Indignação Seletiva” tem piadas raivosas, politicamente incorretas e provocativas, além de um fio condutor cheio de catarse e reflexão. “Nós somos viciados em atenção”, diz ele ao diagnosticar o grande problema contemporâneo. “Há quatro formas de chamar a atenção: mostrar a bunda, fazer algo monstruoso, ser extraordinário ou vitimizar-se”. Para Rock, “o pronto socorro está cheio de pessoas com arranhões e isso impede que pessoas realmente feridas sejam atendidas”.
Logo de cara ele relaciona a escolha do nome para o especial à hipocrisia soberana de nossos tempos e faz uma ótima piada sobre as pessoas barrando as músicas de R.Kelly, mas ouvindo Michael Jackson – pesam contra ambos denúncias de abuso sexual.
Como sempre, Chris Rock é muito hábil ao abordar o racismo, mas nesse especial em particular ele inverte um pouco a lógica e mostra como o racismo pode ser mais um instrumento nesse mundo de hipocrisia e privilégios e, para tanto, utiliza Megan Markle como saco de pancadas. Há quem acredite até que ela “apanhou” mais do que Will Smith. Não é para tanto.
Will Smith foi uma sombra que Rock foi iluminando durante todo o especial para se dedicar efetivamente nos últimos 10 minutos. Ele lembra do momento delicado que Will vivia em seu casamento, então aberto, com Jada e como os dois estavam “lavando roupa suja” em público e faz não piadas, mas observações carregadas de cinismo e ironia sobre todo o imbróglio e arremata com boas piadas envolvendo o péssimo filme “Emancipation”, 1º longa de Will lançado depois do Oscar por “King Richard” e, novamente, sobre racismo.
“Indignação Seletiva” não é o melhor especial de humor de Chris Rock. Nem mesmo o é na Netflix – “Tamborine” é muito mais equilibrado na acidez e inteligência das piadas -, mas talvez seja seu mais pessoal, além de ser exatamente aquilo que esperávamos.