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A metrópole nos bestializa?

Patrícia Froelich

Na presente coluna, quero lhe convidar a refletir como nós endurecemos por exposição diária a pobreza e a miséria. Minha origem é interiorana e rural, nesse sentido fui socializada com valores e tessituras daquele contexto social. A primeira experiência de saída foi com 17 anos, quando mudei de cidade para estudar em uma universidade federal. Lá, tive meu primevo espanto de contraste, a saber, com pedintes pelas ruas do centro: ‘-tem uma moeda?’. Inicialmente aquilo me chocava e depois fui me acostumando com aquele traço citadino. Nas Ciências Sociais isto é categorizado como naturalização. O costume, sabemos, nem sempre é bom, pois nos paralisa e condiciona a deixar as coisas como estão, geralmente justificando a pobreza com teorias analíticas fantásticas.

Agora, eis-me na metrópole gaúcha, onde já tive outros impactos, como ver gente comendo lixo; diversos moradores/as de rua com pequenas cobertinhas em dias de inverno rigoroso; tratamento hostil com pessoas em situação vulnerável; pedintes em cada canto do centro; andarilhos catando toquinhos de cigarro, fortíssimo cheiro de urina, pés em crostas, roupas em fiapos, olhos de desesperança… A gente endurece o coração para saber lidar com tamanha dor. Nós falhamos como sociedade! Quando posso eu ajudo com comida, água e trocados, mas o problema é estrutural. A fome precisa ser suprida hoje, no entanto, a resolução da pobreza e suas camadas requer mobilizações societais.

Pixabay

Como socióloga de formação, poderia explicar adicionalmente a pobreza com uma análise macro e responsabilizar o Estado pela desassistência com os mais necessitados/as, bem como o capitalismo que nos tritura e concomitantemente amortiza para as dores alheias. O que, por seu turno, não está incorreto, mas eu também gostaria de mobilizar o meu e o seu espírito fraterno. Estamos em período de quaresma e independente da minha/sua religião, o convite é compartilhar um pouco do que temos, seja alimento, agasalho, acolhimento, amor sem julgamentos, marmita, água, esperança…Como você se sente olhando para a miséria? Consegue ver na população de rua teus semelhantes? Tem capacidade e coragem para auxiliar outrem? Como a caridade e a benevolência ressoam em teu coração? Ao ver o sofrimento você acolhe ou ignora?

Nas cidades, especialmente nas capitais, o ritmo de vida é frenético. Estamos preocupadas/os com os boletos, casa, trabalho e rotina. Andamos ocupadas/os dentro de nossa mente e empenhadas/os em passar uma boa imagem de nós mesmos/as. No final do dia somos todas/os equilibristas, já dizia o poeta. Mas a vida está além do nosso umbigo, requer olhares para a rua, o bairro e o ecossistema de trabalho. Mudar o mundo não nos compete como seres individuais, mas podemos entregá-lo um pouco melhor do que recebemos[1].

As mensagens dessa coluna são: resgate o amor e a caridade; não se acostume com o sofrimento alheio; o espanto e a comoção são positivos; você pode fazer muito com pouco; cobre resolutivas de seus candidatos políticos também; sua ação pode impactar mais do que você confabula; a fraternidade não tem nexo com a indiferença; sua ação no mundo é importante e convém; a caridade sozinha não muda a sociedade, mas sem ela tampouco a mudança começa. Esta coluna trouxe um olhar feminino para as mazelas sociais e requer sua confabulação em consonância, convocando seu pensar para a ação; quiçá o esperançar do professor Paulo Freire! Que assunto você apreciaria ler neste espaço? Deixe seu comentário ou crítica, por gentileza. Nos vemos na semana subsequente? 


[1] Sugestão musical: Caridade – Tribas feat Marcelo Falcão:               

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