Streaming já muda paradigmas da indústria dos games

Depois de cinema, TV e música, o streaming avança sobre aquela que é a indústria mais rentável do entretenimento e que parecia imune a essa que se mostra cada vez mais uma tendência irreversível

Por Nathan Vieira

As mudanças trazidas pelas plataformas de streaming são indiscutíveis. Desde que apresentadas ao público brasileiro, essas empresas revolucionaram radicalmente a forma de consumir conteúdos como filmes, séries e documentários. Hoje em dia, quando se fala de alguma produção cinematográfica, a primeira coisa que vem à mente é em qual plataforma se pode consumir esse conteúdo. E ao que tudo indica, essa linha de raciocínio também pode estar em expansão, abraçando um novo nicho: os games.

Em 2021, a Netflix — como você já deve saber, o principal nome dos serviços streaming — lançou seu serviço de jogos Netflix Games, que oferece alguns títulos para seus assinantes, que  podem baixar sem custos, anúncios ou compras in-game. Os primeiros jogos disponíveis foram Stranger Things: 1984, Stranger Things 3: The Game, Shooting Hoops, Card Blast e Teeter Up.

Para ter acesso aos jogos, não é necessário baixar nenhum outro app. Na própria Netflix,  basta procurar pela aba Netflix Games nos smartphones ou pela categoria Netflix Games nos tablets, e conferir o catálogo.

A empresa procura uma diversificação dos seus produtos e trilhar o caminho dos jogos é uma dessas estratégias. No entanto, a gigante do streaming não está sozinha nessa nova movimentação. A Amazon, que também hospeda filmes e séries em sua plataforma Prime Video, também voltou os olhares ao mercado de games através da Amazon Luna. Por enquanto, o serviço ainda está indisponível no Brasil, mas já indica a intenção da empresa, de abraçar esse nicho em possível ascensão.

Reprodução/Netflix

Mas se você acredita que as empresas tradicionalmente voltadas aos games não buscam trilhar um caminho semelhante, está enganado: a própria PlayStation, marca gerenciada pela Sony, conta com dois tipos de serviços que chamam cada vez mais atenção do público — a Playstation Store, loja online onde é possível comprar diversos conteúdos para os jogos e para os próprios consoles, e Playstation Plus, serviço de assinatura que possibilita experiência online nos games, além de benefícios como jogos gratuitos mensalmente e o recurso de jogar com outras pessoas pela internet.

O futuro dos games será o streaming?

Para entender os novos ares desse mercado, o Culturize-se conversou com Bruno Campagnolo, engenheiro de computação, coordenador dos cursos de Jogos Digitais na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Em sua concepção, a computação em nuvem, especificamente aplicada para a área de games, é uma realidade que vem trazer uma revolução na forma como consumimos jogos e tem um fator forte de democratização, permitindo que pessoas com dispositivos mais fracos consigam consumir jogos maiores, mais elaborados e com gráficos melhores.

“Sem dúvida veio para ficar e vai ficar mais popular cada vez mais conforme vai se popularizando também as conexões rápidas e o 5G, tendo boa chance de ser a principal plataforma de muitos jogadores”, estima o especialista. Em sua opinião, o 5G vai ter um impacto muito forte, principalmente porque não implica apenas em velocidade, mas também em baixa latência. “Como o principal dispositivo 5G será o celular, provavelmente as plataformas em nuvem sempre se preocupem com a adaptação do jogo para rodar bem em nuvem nos dispositivos móveis”, pontua o engenheiro de computação.

Enquanto isso, Arthur Igreja, especialista em Tecnologia, Inovação e Tendências, nos diz que a questão dos games de streaming é algo muito natural em razão da tecnologia e, na verdade, tem um aspecto estratégico. “Temos que lembrar que os games eram fitas, depois viraram CDs, seguido do blu-ray. Só que tudo isso não é nada prático e tem muito custo. Então, em um primeiro momento, começou com o download, mas, também, os games começaram a ficar incrivelmente pesados. Como a banda está evoluindo cada vez mais, fica muito mais acessível, ou seja, temos queda de latência e aumento da velocidade”, opina.

Segundo o especialista, estamos tendo uma disputa por atenção pelo tempo de tela dos usuários. Com isso, o principal concorrente de um serviço de streaming é o game, por isso os olhares voltados a esse mercado.

Foto: Unplash

E os games offline?

Para Campagnolo, não há uma competição entre os modelos offline e online, uma vez que o mesmo jogo pode ser consumido de maneiras diferentes. “Talvez o modelo offline só seja mesmo preferível quando a latência é fator de competição, como por exemplo nos e-Sports. Mas, mesmo assim, quanto mais evoluída a conexão, menos esse fator é importante”, sugere.

Sob a ótica de Arthur Igreja, os jogos offline terão que criar experiências incríveis. “Estamos tendo um crescimento da Sony apostando alto em VR, muito se fala da Apple, de que ela tem interesse em lançar um VR em 2023. Esses ficam um pouco mais complicados via streaming pela largura de banda que é preciso. É necessário que sejam games muito diferenciados”, opina o especialista.

Mas a tendência é que chegue um momento em que a presença do game no streaming seja uma regra e o game offline seja uma exceção? Para Campagnolo, sem dúvida é um cenário muito possível, mas o que impede (ou atrasa) um pouco mais essa tendência são os custos associados à produção de um jogo, que precisam ser pagos e justificados.

“As plataformas em nuvem precisam ganhar mais, para conseguir arcar com esses custos fora da compra. Além disso, muitos filmes que vão para streaming se pagam pelo cinema. Então, talvez exista um cenário similar, no qual os jogos vão primeiro para a venda direta (o game offline) e depois de alguns meses sejam disponibilizados nas plataformas de nuvem”, estima o engenheiro da computação.

Deixe um comentário