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A lendária apresentação do Nirvana, na Praça da Apoteose, em janeiro de 1993

Tom Leão

Uma das edições mais bacanas do extinto festival Hollywood Rock (que acontecia, alternadamente, no Rio de Janeiro e em São Paulo), foi a que se realizou em janeiro de 1993, em pleno verão, que trouxe, pela primeira vez ao Brasil, bandas como L7, Nirvana, Alice in Chains e Red Hot Chili Peppers! Todas, bandas quentíssimas, surfando na crista da onda do sucesso do grunge mundialmente (menos os RHCP, que vieram pouco antes destas e apenas pegaram carona na onda do novo rock que se descortinou no começo dos anos 90, com o ótimo disco “Blood Sugar Sex Magik”). Foi um dos melhores e mais sintonizados lineups de festivais que já rolaram por aqui. Nada de velharias ou enrolações ligadas a esquemas comerciais. Era só o que a gente queria ver. E, viu.

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Meninos e meninas, eu vi o Nirvana, naquela que foi a última grande rodinha selvagem da qual participei na minha vida. Ali, na Praça da Apoteose. E, foi apoteótico! Afinal, o Nirvana não apenas era a banda que trouxe o punk para as massas (como contado no excelente documentário “1991: The year punk broke” de 1992, que cobre a turnê que tinha Sonic Youth encabeçando e o Nirvana abrindo, mas, aos poucos, o Nirvana passou a chamar mais gente e acabou por encabeçar o lineup, por conta do estouro do álbum “Nevermind”) como foi também o último grande grito do rock. Desde então, nenhuma banda arrombou portas e conquistou multidões nessa escala. Tocava em todas as rádios, não apenas de rock, sua mãe também gostava (a minha, amava), e vendeu milhões de cópias do disco “Nevermind”.

Toquei tanto o meu vinil, que comprei outro. Sem contar o CD, cujas cópias importadas, aleatoriamente, vinham com uma faixa-extra secreta, “Endless nameless”. Você precisava abrir o CD e botá-lo contra a luz, para saber se a tal faixa vinha naquela edição ou não. Como fazer isso se vinha lacrado? Era uma verdadeira aventura pelas lojas da cidade.

Ao mesmo tempo em que foi catártico, o show (no qual quase todas as faixas de “Nevermind” desfilaram, em versões ‘selvagens’) também foi um dos mais caóticos (como já tinha sido, alguns dias antes, na edição do festival, em São Paulo, mas que não chegou aos pés da apresentação no Rio). Dado momento, Kurt enlouqueceu, e começou a provocar o festival, por ser de uma marca de cigarros (e, ele, fumando quase o tempo todo!). E por estar sendo filmado pela maior rede de TV do país (o show de SP não foi transmitido ao vivo), cuspiu na câmera, fez comentários bizarros, chamou a cidade de ‘diarrhea de janeiro’, quebrou a guitarra (camarada meu, o diretor Robertinho Berliner, que estava filmando do palco, levou o braço para casa). Enfim, não foi aquele show ensaiadinho, ‘paumolão’ e com frases feitas que se faz hoje em dia. Foi gutural e sujo, como o rock deve ser. Ainda será?

De quebra, o show teve a participação especial de Flea (o baixista do Red Hot Chili Peppers), solando trumpete em “Smells like teen spirit” (que foi apresentada mais ou menos na metade do show, que durou hora e meia). E teve até uma música então inédita, “Heart shapped box”, que faria parte do terceiro e último disco da banda, “In utero” (1993). Eles gravaram algumas bases e demos, no Rio de Janeiro, nos extintos estúdios da RCA, em Copacabana, em algumas madrugadas.

Quando o show terminou, ao som de “Territorial pissings”, com Kurt de quatro no palco, eu, fechei meu ciclo punk. Nada, depois daquela noite, há 30 anos, iria superar, sequer chegar perto, da energia que Kurt e o Nirvana emanavam. Era, ‘a banda que ilumina a Terra’, como o título da matéria de capa que fiz, para o Segundo Caderno de O Globo, estampou.

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