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Andrea Riseborough e a revolta dos especuladores

Reinaldo Glioche

Não fosse o nome de Andrea Riseborough, que chocou meio mundo com sua indicação ao Oscar anunciada na última terça-feira (24), e o leitor poderia supor se tratar este de um artigo sobre o mercado financeiro. A especulação é um ativo poderoso e não apenas uma moeda de capitalização para quem atua no mercado de valores.

Como o Oscar é, antes de qualquer coisa, um concurso de popularidade e uma campanha política, com suas cotas, temas importantes, índices demográficos e etc, mais do que surpresa, a nomeação de Andrea Riseborough para Melhor Atriz pelo pouquíssimo visto “To Leslie” gerou inconformismo. Se uns ganham, necessariamente outros perdem e em um jogo de campanhas milionárias, quando um dos ganhadores pouco investiu na contenda, há descontentamento e chiadeira por todos os lados.

Na última quinta-feira (26), a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (AMPAS) anunciou que está conduzindo uma investigação para ver se nenhuma diretriz da instituição foi violada. “E para nos informar se mudanças nas diretrizes podem ser necessárias em uma nova era de mídias sociais e comunicação digital. Temos confiança na integridade de nossos procedimentos de nomeação e votação e apoiamos campanhas populares genuínas para desempenhos excepcionais”

“To Leslie” | Foto: divulgação

Isso ocorre porque alguns insiders da indústria vocalizando frustração de aspirantes à vaga que acabou ficando com a atriz britânica apontaram possíveis ilegalidades na maneira como a campanha foi desenvolvida entre membros da Academia. Esse artigo do jornalista Matthew Belloni deu início a toda a controvérsia.

Tenha ou não sido estimulada por agentes, ou mesmo pela esposa do diretor do filme que enviou um e-mail para seus colegas famosos para verem e postarem sobre o filme, a polêmica é oca. Isso porque o lobby em favor de filmes e artistas é algo generalizado e bastante comum na corrida pelo Oscar. A ideia de aproveitar-se da organicidade das redes sociais para gerar impacto sem tanto custo financeiro também não é nova. O que parece ser o caso aqui, que também não é novo, embora decididamente mais raro, é que a performance de Riseborough cativou votantes do Oscar o suficiente para derrotar campanhas muito mais sólidas e foco de simpatias de formadores de opinião em Hollywood.

Esse choque, por assim dizer, gerou a revolta de todo um grupo de especuladores – que vai desde os pundits, críticos e jornalistas que se incumbem de antecipar os indicados -, até publicistas responsáveis por essas milionárias campanhas. No olho do furacão, Andrea Riseborough, que sequer fez campanha na temporada visando prêmios, não se manifestou a respeito do imbróglio que se viu lançada. Se limitou a agradecer à Academia pela lembrança.

Cate Blanchett, favorita ao Oscar de atriz, foi uma das personalidades que se engajaram na campanha em prol da atriz de “To Leslie”. Em toda entrevista e discurso de agradecimento por troféu que dava na temporada, lembrava da “espetacular performance” de Riseborough.

Kate Winslet, Jennifer Aniston, Susan Sarandon, Patricia Clarkson e tantos outros atores se manifestaram no Instagram com louvores à performance da atriz durante o período de votação para os indicados ao Oscar. Edward Norton, membro da Academia que também postou elogios ao trabalho da atriz em “To Leslie”, disse ao The Washington Post que “sua saudação do desempenho de Riseborough não tinha nenhuma pretensão de engajamento para prêmios”.

A declaração de Norton transparece toda bobagem de uma polêmica que parece fabricada pelos mesmos publicistas que viram uma performance genuinamente querida derrotar uma máquina de percepções artificiais.

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