Reinaldo Glioche
Desnecessário dizer que os conceitos de bom e ruim, principalmente quando aplicados a qualquer tipo de arte, são absolutamente subjetivos. Mas quando falamos de cinema, que também é um negócio, estão à disposição alguns instrumentos para validar o sucesso de um filme.
Com o “Avatar: O Caminho da Água” em cartaz nos cinemas, a discussão do que qualifica um sucesso voltou à baila. Antes, um pouco de contexto. Em um mundo regido pelos parâmetros da Marvel, um produto como o filme de James Cameron surge disruptivo. À época da estreia do 1º “Avatar”, a Marvel ainda não pertencia à Disney, hoje, a própria franquia criada por Cameron, integra o portfólio da empresa.
Houve ceticismo quando da estreia do primeiro filme em 2009 e a carga foi dobrada em 2022. Em parte pelas cifras envolvidas. Do ponto de vista financeiro, “O Caminho da Água” precisava arrecadar mais de US$ 1.5 bilhão para ser considerado lucrativo. A conta admite os gastos de produção e marketing. É uma senhora pressão. Embora seja relativamente comum que filmes rompam a barreira do bilhão nas bilheterias, a obrigação de fazê-lo é um pendor ao fracasso.
Além do império das redes sociais, do desgaste dos prêmios da indústria e do empobrecimento da crítica cinematográfica, além de sua inerente desvalorização na era dos agregadores (Metacritic, Rotten Tomatoes, etc) – tão defenestrados por Martin Scorsese -, “O Caminho da Água” teve que lidar com a desconfiança de uma indústria condicionada ao padrão Marvel de sucesso; isto é, um primeiro fim de semana arrebatador nas bilheterias.
Beijando os US$ 2 bilhões de arrecadação globalmente e sem emitir sinais de estafa, “O Caminho da Água” é um case e tanto para o cinema contemporâneo se debruçar. Além de violar os paradigmas vigentes na indústria, mostra que ainda é possível validar o sucesso de um filme – e cativar a audiência – sem operar dentro de um mesmo modelo.
A crítica no paredão
A decadência da atividade crítica está relacionada ao fato das redes sociais empobrecerem o debate cultural, mas também é influenciado por esse pavor ensimesmado do spoiler e por uma franca opção de gerações mais jovens de ter um diálogo menos circular e mais obtuso com os filmes.
Isso se reflete na propagação de autodenominados críticos em todos os corredores digitais e no desabastecimento da função em jornais e veículos destacados. A crítica ainda é sinônimo de validação artística em toda e qualquer obra cultural, mas essa percepção hoje é uma commodity.
Essa fragilidade é o que torna tão difícil mensurar o sucesso de um filme, o que nos leva a outro em cartaz nos cinemas atualmente. “Babilônia“, de Damien Chazelle, que não foi bem nas bilheterias americanas, tem desempenho ínfimo na temporada de premiações e dividiu a crítica especializada nos EUA.
Nada disso incomodou Chazelle, um dos prodígios da nova Hollywood, que disse que “espera que mais filmes sejam polarizadores. O cinema precisa disso”. Ele está certo. Como se vê, todo uma cadeia produtiva é influenciada por certos estímulos e o cinema só pode agradecer por filmes como “O Caminho da Água” e “Babilônia”, que dilatam o escopo do sucesso enquanto o redefinem intrinsicamente.