Patrícia Froelich
Esta é minha sexta coluna, sendo que este espaço se pretende diverso, reflexivo e acolhedor. Assim sendo, hoje faço um exercício de expor minha vulnerabilidade e também flertar com uma escrita mais pessoalizada. Falamos dos problemas como entidades que não nos atingem e por muitas vezes terceirizamos as culpas ou culpadas.
Culpa, aliás, é um termo muito carregado, podemos substituí-lo por responsabilidade, para ser mais deglutível. Pois bem, no último sábado fui para a praia, após dois anos sem fazê-lo, nubank na frente e Deus atrás. Ora escrevo com partes do meu corpo levemente tostadas, apesar de ter me besuntado em protetor fator 70. Preciso dizer que senti saudade da praia, até mesmo da areia que cola e até coça na pele. A praia tem uma outra vibe e recolore nossa existência; quem concorda respira!
Feito os sobreditos comentários jocosos de tia, vamos a vulnerabilidade prometida. Sou feminista e achava que questões relativas ao meu corpo estavam superadas, mas foi só engordar 20 quilos que novamente não quis usar biquíni. Também teve a questão dos meus dois biquínis não servirem mais e de estar menstruada. Outrossim, senti constrangimento do meu corpo em possíveis trajes de banho; você também já se privou de algo por vergonha?
Na teoria sei que isso é uma grande besteira e inclusive já trabalhei muito a questão do amor-próprio em terapia, mas na prática a teoria ganha outros contornos. Os referidos quilos adicionais estão me privando de certos prazeres ou sou eu mesma? Eles vieram por uma situação de forte estresse profissional e consequente compulsão alimentar e serão administrados por uma questão de saúde (no meu caso). Expressando minha limitação, hasteio novamente a reflexão de como nos amamos na mesma medida em que nos reprimimos. Quantas vezes você também já privou de algo por se julgar inapropriada?
Eu poderia fazer um texto lacração e jogar em sua cara quanto sou empoderada, mas me expresso dolorosamente humana. Eu acredito que todas as mulheres também já se sentiram, em algum momento, infelizes com seu corpo e cobradas para que sua barriga fosse sem gorduras expressivas, sua bunda sem flacidez, seus seios empinados, seu cabelo longo e muito hidratado, sua pele esticadinha, sem olheiras e com a depilação em dia, entre outras matizes do que é beleza feminina padrão. Sobre pelos e sua associação com sujeira, falaremos em outro momento. Quero abraçar a diversidade e sou defensora dos corpos plurais e livres, mas quando foi a minha vez de fazê-lo na prática… oscilei, tenho consciência, me mantenho vigilante, perdi uma batalha, mas não a guerra!
Pretendo emagrecer por uma questão de saúde e autoestima. Mas é sabido que temos preconceito com corpos não magros, começando pelo nosso. É difícil encontrar uma mulher que não queira perder peso, pelo menos um quilo que seja. Estar descontente com nosso corpo nos vende shakes, cintas modeladoras, calcinhas compressoras, camisetas largas, medicamentos, nos faz consumir conteúdos de coach de esquina …A minha insatisfação com meu corpo a quem beneficia?
Me ajuda a pensar como podemos criar corpos verdadeiramente livres, sem inibições ou amarras, tá? Caso tenha um indicativo, por favor, deixe nos comentários. Penso que a autoestima seja construída e lapidada diariamente e é fato que não estamos sempre bem, porque viver é enfrentar dias sem luz e experienciar variados sentimentos. Lancemos um olhar crítico sobre nossas ações, mas também amor e acolhimento. Meu ‘erro’ de não usar biquíni por vergonha fomentou essa coluna, o que você tem feito com os seus? Como buscar a melhor versão de nós mesmas (não estou falando do físico necessariamente)?
No domingo assisti um filme para temperar ainda mais este escrito, a saber ‘ Sexy por acaso’, um filme clichê de humor, com uma lição conhecida por nós: a luta diária contra as inseguranças em relação à imagem e a busca pela confiança na vida pessoal em paralelo com a atuação destemida no ramo profissional. Confiar em nossa capacidade é o primeiro passo, mas a jornada, sabemos, é longa e arrisco dizer que se dá até nosso último suspiro no mundo material. E você, acha que seu corpo está ideal para o verão? Como você se veste na praia? Consegue desfrutar dos lugares sem considerar os julgamentos?
Muita gratidão pela sua leitura atenciosa, volte sempre para essa coluna! É um privilégio lhe ter como leitora/leitor, deixo o convite para nos tratarmos com mais empatia, sobretudo nas ações pragmáticas; estamos aprendendo, questionemos o sistema e nossas ações, pois se a revolução existe, ela certamente requer práticas diárias, temos que colaborar como nossa partícula!