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“Rude Boy”, o filme do Clash que vale como documento de uma época

Tom Leão

Recentemente, apareceu na internet (depois de ser exibido em algumas mostras especificas, inclusive no Brasil, nos CCBBs de Rio de Janeiro e São Paulo), a cópia remasterizada de “Rude Boy” (1980), que ficou conhecido como “o filme do Clash”, embora não o seja, de fato (bem, mais ou menos). Mas, na época, era a única maneira que os fãs do Clash tinham de ver a banda punk inglesa ao vivo, em ação, nos bastidores, falando (sem ser em entrevistas). De outra forma, só ouvindo os discos.

 Por isso, quando amiga minha trouxe uma cópia em VHS, da Inglaterra (ela também tinha o VCR que tocava fita europeia, que era de padrão diferente do nosso), fizemos fila para ir à sua casa assistir. Ela fazia sessões nos sábados à tarde, quando sua família saia para o fim de semana fora. Era uma sensação ver o Clash como nunca antes. Nem dá para descrever.

  Mas, antes disso, “Rude Boy” é um filme semidocumental, que é meio estudo de personagens, parte ‘rockumentary’, com a banda punk britânica The Clash, servindo de norte. O roteiro inclui a história de um fã fictício (Ray Gange) justaposto com eventos reais do dia a dia, incluindo manifestações políticas (contra a Primeira Ministra Margaret Tatcher) e shows do Clash — tudo de verdade, estavam acontecendo de fato, sem ensaios. Filmado ao longo de um período de dois anos, os diálogos muitas vezes parecem improvisados (e o foram, na maior parte do tempo). Tudo isso, dá ao filme uma aura diferente, quase de cinema verité.

  Ray Gange, que faz o tal rude boy do título, é um tipo punk que vive pulando de empregos (a princípio, trabalha numa sex shop, depois, cava uma vaga como roadie do Clash, meio que na moral). Ele não tem nada de especial, poderia ser qualquer um rapaz da época. Vai a festas punk, namora, fuma maconha e ouve reggae/dub. E, acima de tudo, é um fã devoto do Clash. Daí estar em todos os shows que a banda faz. E, aos poucos, vai ganhando a confiança destes, até se tornar amigo.

  Por isso, o filme tem um ritmo errante. O que faz com que, as partes com a banda tocando ao vivo, sejam as melhores. A maioria das músicas nem aparecem por completo (imagino que até por conta de direitos autorais). Mas, o clima nos lugares dos shows é autêntico e vibrante. Um dos momentos marcantes, por exemplo, é quando está rolando ‘White Riot’ e começa uma pancadaria na plateia (o show em questão, é no Glasgow Apollo, na Escócia). Joe Strummer vai até a beira do palco e saca a famosa frase: “Simmer down… Control your temper!”. A tal frase, veio da abertura de uma música de Bob Marley & The Wailers, ‘Simmer down’, de 1963. Marcou.

  Apesar de tudo ter sido gravado ao vivo e feito na base do improviso, as músicas apresentadas no filme tiveram de passar por overdubbing (foram ‘retocadas’ pela banda em estúdio), devido às más condições dos equipamentos de gravação. As regravações foram feitas durante as pausas de gravação do clássico álbum ‘London Calling’, no Wessex Studios. Daí o som cristalino e potente, apesar das caóticas apresentações.  

Tudo isso, faz de “Rude Boy” um filme que deve ser visto, não apenas por fãs do Clash, mas do (punk) rock como um todo. Porque, de modo geral, ele acaba valendo como documento histórico — embora seja difícil de achar, nunca saiu oficialmente no Brasil. E por apresentar o Clash de uma forma como jamais veríamos de novo: caótica, real e intensa. E, ver e ouvir a banda tocando ‘White Riot’ (várias vezes), ‘I´m so bored with the USA’, ‘Janie Jones’, ‘Police and Thieves’, e ‘White man in the Hammersmith Palais’, não tem preço.   

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