Porque “Reservation Dogs” é a melhor série da atualidade

Imagens: Divulgação/FX

Criada por Sterlin Harjo e Taika Waititi, “Reservation Dogs” conta a história de um grupo de adolescentes que vive em uma reserva indígena em Oklahoma. A série é escrita e dirigida por nativos americanos, que também ocupam a maior parte do elenco.

A produção gira em torno de quatro adolescentes, que perderam um amigo, e tentam seguir seu sonho de fugir de lá e morar na Califórnia. Eles cometem pequenos furtos, e tentam juntar dinheiro como podem.

Bear (D'Pharaoh Woon-A-Tai), se considera o líder de seu grupo, mas não tem nenhuma noção do que está fazendo, e acaba recebendo a visita de um antepassado inesperado com modos nada ortodoxos. Elora (Devery Jacobs) enfrenta as dificuldades de viver com a avó, depois da morte de sua mãe e o suicídio do melhor amigo.

Como comédia, encontra maneiras inesperadas de honrar a população indígena e fazer rir. Como drama, reflete sobre as dificuldades de viver em uma comunidade indígena nos Estados Unidos e a repercussão na vida das pessoas.

Assim como seu país deixa claro, eles se sentem rejeitados. Culpam seus familiares, o lugar onde vivem e tudo ao redor, e entendem que uma vida na Califórnia, perto do mar, é a solução. Mas o que vemos é um grupo de jovens que está tentando descobrir quem é, e qual seu lugar no mundo.

A série sempre dá espaços para os personagens coadjuvantes brilharem, como o xerife Big, interpretado por Zahn McClarnon, em um dos melhores momentos da carreira. Entre os amigos, a jornada de Willie Jack, descobrindo a potência de suas origens, é provavelmente um dos arcos mais bonitos, e destaca o talento da atriz Paulina Alexis,além de render as cenas mais emocionantes da série.

“Reservation Dogs” faz história só por existir: é a primeira série a retratar a realidade em uma reserva, a primeira a ser gravada inteiramente em Oklahoma, e a primeira a contar majoritariamente com nativos americanos na frente e atrás das câmeras.

Mas sob a supervisão de Sterlin Harjo, a série não quer ser só a primeira em algo. Além das belas imagens, excelentes atuações, narrativas inusitadas, “Reservation Dogs” oferece sentimento. Cada personagem tem algo a mostrar em relação ao que significa ser um nativo americano.

E a soma disso faz da produção, que em agosto estreia nos EUA sua última temporada, um primor da nova era de ouro da TV. Brincando com as conexões espirituais, além dos ritos e crenças, têm atuações no mesmo nível de “Succession”, e o timing cômico de “Abbott Elementary”.

Em muitos casos, como nos episódios que saem da sequência e focam em outros personagens, e até na estética, lembra “Atlanta”, outra série com um recorte específico da cultura norte-americana, e que constantemente subverte o humor em prol do conteúdo questionador e, muitas vezes, desolador.

É original pelas pessoas que apresenta e as histórias que conta, mas mais importante, é televisão de alta qualidade. Na era dos streamings, em que quantidade importa mais, é fácil se confundir entre o que está acessível e o que é bom. “Reservation Dogs” não tem a mesma repercussão das produções da HBO ou o mesmo reconhecimento no Emmy, mas é uma das melhores séries da atualidade, e vale cada minuto assistido.