Cannes 2023
Mariane Morisawa
22/05/2023
O diretor brasileiro Karim Aïnouz fez sua estreia na competição do 76º Festival de Cannes, na noite do domingo (21), com seu primeiro filme em língua inglesa, "Firebrand".
Baseado no romance histórico Xeque-Mate da Rainha, de Elizabeth Fremantle, fala da sexta mulher de Henrique 8º, que reinou na Inglaterra entre 1509 e 1547. Katherine Parr foi a única a sobreviver ao tirânico monarca, que se divorciou de duas das suas mulheres, executou duas delas e ficou viúvo de uma.
Interpretada pela sueca Alicia Vikander, Parr caminha na corda bamba o tempo inteiro para não despertar a ira do rei, vivido por Jude Law, e ter o mesmo destino das outras. Ao mesmo tempo, arriscava-se defendendo os protestantes que queriam a reforma da igreja na Inglaterra, foi a primeira mulher inglesa a publicar um livro com seu próprio nome e educou três dos filhos de Henrique 8º, Maria, Eduardo e Elizabeth, que se tornaria rainha.
A produção impressiona pelos detalhes de cenários e figurinos e pela fotografia de Hélène Louvart, que tinha trabalhado com o cineasta em "A Vida Invisível " (2019) e pinta cenas como se fossem telas. A força do filme, porém, reside nas atuações de Vikander e Law e na maneira como Aïnouz retrata a intimidade do ambiente palaciano, como é de seu feitio. Poderia haver mais Karim Aïnouz ali? Sim, mas o diretor espana o pó e a rigidez dos dramas de época e mostra a tensão de viver sob o jugo de um homem abusivo e de um rei tirânico.