A guerra dos streamings

Em 2010, depois de passar 13 anos oferecendo um serviço de entrega de DVDs em casa, a Netflix iniciou seu próprio serviço de streaming. Talvez os fundadores Marc Randolph e Reed Hastings ainda não soubessem, mas eles estavam prestes a mudar o jogo do entretenimento, e a forma como as pessoas consomem filmes e séries. 

Embora revolucionária, a Netflix logo foi alcançada por outros estúdios e distribuidores, e hoje faz parte de um mercado altamente competitivo, e com o futuro incerto. 

Os principais estúdios de Hollywood trabalham com uma plataforma própria ou parcerias, e o cenário de um mercado saturado versus a audiência da televisão tem colocado em jogo a sobrevivência desses sites. No Brasil, são quase 20 serviços com opções que vão desde novelas exclusivas, até séries e filmes antigos, reality shows e muito mais. 

A briga é acirrada, e ainda não é possível definir um vencedor nesse mar de conteúdos. Ou dá? É o que vamos descobrir!

OS COMPETIDORES

NETFLIX

Inscritos: 222 milhões 

Receita: US$ 7,92 bilhões*

Valor assinatura: a partir de R$ 18,90 

Destaques: Round 6, Stranger Things, La Casa de Papel

PRIME VIDEO

Inscritos: 200 milhões (incluindo outros serviços Amazon)

Receita: US$ US$ 2,87 bilhões*

Valor assinatura: a partir de R$ 9,90

Destaques: Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder, The Boys, Marvelous Mrs. Maisel

APPLE TV+

Inscritos: 40 milhões**

Receita: Não divulgado

Valor assinatura: R$ 14,90

Destaques: The Morning SHow, Ted Lasso, Ruptura

OS COMPETIDORES

DISNEY+

Inscritos: 125,1 milhões 

Receita: US$ 1,5 bilhão***

Valor assinatura: a partir de R$ 23,90 

Destaques: The Mandalorian, Loki, WandaVision

STAR+

Inscritos: 22,8 milhões 

Receita: US$ 1,5 bilhão***

Valor assinatura: R$ 32,90 (incluso ESPN) 

Destaques: Os Simpsons, Grey’s Anatomy, Atlanta

HBO MAX

Inscritos: 76,8 milhões

Receita: US$ 8,7 bilhões

Valor assinatura: a partir de R$ 14,16 

Destaques:  Gossip Girl, Peacemaker, The Flight Attendant

OS COMPETIDORES

GLOBOPLAY

Inscritos: 30 milhões

Receita: não divulgado

Valor assinatura: a partir de R$ 14,90 

Destaques: Verdades Secretas 2, Todas as Flores, Desalma

*números do terceiro semestre de 2022

**valor estimado, a Apple não divulga oficialmente

***perda somada de todos os streamings da Disney no mundo, incluindo Star+, Hulu e ESPN

ROUND 1: CONTEÚDO

HBO MAX

A HBO Max conta com a vantagem de ter em seu catálogo todo o conteúdo do canal HBO, repleto de sucessos, desde clássicos como Família Soprano, até sucessos mais recentes como Game of Thrones. 

Em termos de filme, também domina já que conta com todo o acervo da Warner, incluindo os filmes da DC, sucessos recentes como Elvis e Duna, a saga Harry Potter, e vencedores do Oscar como Moonlight, O Poderoso Chefão e Mad Max.

Golpe baixo: mesmo com um grande acervo, os últimos meses da companhia foram de problemas. Depois de cancelar o lançamento do já pronto Batgirl, o streaming anunciou que outras séries já prontas sairão da plataforma, como Minx e Westworld.

NETFLIX

Mesmo com o maior número de assinantes, a Netflix viu esses usuários diminuírem em 200 mil no primeiro semestre de 2022. Com tantas opções, a má qualidade dos produtos da Netflix acabam afastando parte do público. Além disso, os preços subiram e o plano mais barato sem propagandas é de R$ 25,90, um dos mais altos do mercado.

Contra-ataque: ainda que suas produções não tenham o mesmo prestígio de antes, ainda emplaca grandes hits, como Stranger Things. A quarta temporada da série teve 1,35 bilhão de horas vistas no primeiro mês

APPLE TV+

A gigante de tecnologia chegou atrasada, mas pronta pra nocautear. É a mais bem rankeada no iMDB, e já começa a acumular prêmios importantes como Emmy para The Morning Show e Ted Lasso.

Entrou para vencer: tem pouco tempo no mercado, mas já conta com conteúdos importantes. Em 2021, foi responsável pela distribuição de CODA – No Ritmo do Coração, que acabou levando o Oscar de Melhor Filme.

DISNEY+

A Casa do Mickey pode ser considerada mais “nichada”, porém, o nicho atrai muuuuuuuuitos fãs. Com Star Wars e Marvel embaixo do chapéu, o streaming encontrou o ouro. Foram sete séries da Marvel lançadas desde 2021, e mais quatro de Star Wars. Além dos filmes clássicos e as animações da Pixar, e todo o conteúdo do National Geographic.

STAR+

Com produções de destaque no mercado internacional, e que não chegam aqui de outra forma, o Star corre por fora, mas tem chance de vencer. Além de englobar as produções que eram do Grupo Fox, como The Walking Dead e suas derivadas, conta ainda com o acervo do Hulu, que não existe por aqui. O streaming tem se destacado nos EUA com títulos como Only Murders in the Building, Handmaid’s Tale, The Great e Abott Elementary. 

Lutando contra: é a plataforma mais cara do mercado nacional, e não distribui todos os títulos em paralelo ao mercado norte-americano.

PRIME VIDEO

Antes mesmo da Apple investir em entretenimento, a gigante do varejo já estava de olho em uma fatia do mercado de streaming. Com público crescente, em 2022 superou a Netflix em assinantes nos EUA. A seu favor, produções de grande porte como a série de Senhor dos Anéis e The Boys.

Nos filmes, também já conquistou prestígios com produções como Uma Noite em Miami e O Som do Silêncio.

Em busca da vitória: a seu favor, o Prime Video conta com a recente aquisição da MGM, e um acervo com mais de 4 mil filmes e 17 mil episódios de televisão.

GLOBOPLAY

O conteúdo de séries é um pouco defasado e entra no streaming só depois que as temporadas foram concluídas na TV aberta norte-americana e brasileira. Ainda assim, conta com grandes sucessos de público em produções como The Good Doctor.

Nos filmes, absorveu o Telecine Play, que deixou de ter uma plataforma própria e ainda conta com um bom acervo, com garantia de exclusividade de alguns títulos da Warner, como Aves de Rapina e O Hobbit.

Pronta para a briga: o segredo do Globoplay está no próprio acervo da Globo. Agora, o canal investe em conteúdo exclusivo, e estreou sua primeira novela diretamente no site, Todas as Flores.

Round 1

O momento é delicado para a plataforma, e têm deixado produtores de conteúdo e o mercado insatisfeitos. Porém, como opção para os usuários, ainda conta com o melhor conteúdo de filmes e séries, e precisa proteger esse catálogo para sobreviver.

ROUND 2: ESTRATÉGIAS

No heptágono das estratégias, todo mundo busca aumentar sua fatia do bolo para conquistar mercado

Corner 1:

Apple TV+ comprou um vencedor do Oscar e aposta em menos, porém melhores conteúdos. Está na briga

Corner 2:

Netflix sofre para emplacar bons conteúdos, vê seus filmes caros saírem de mãos abanando das premiações, cancela produções já confirmadas e ainda anuncia plano com propaganda. Segue apanhando feio das concorrentes e tem dificuldade para se mexer

Corner 3:

Tirando conteúdo original e cortando produções prontas, HBO Max é desclassificada

Corner 4:

Prime Video levou algumas invertidas, mas segue em pé. Comprou a MGM para ampliar o portfólio e tem um plano aliado à Amazon que garante visibilidade.

Corner 5:

Globoplay tem uma história digna de Rocky, e não para de lutar. Pode não vencer esse round, mas com as parcerias e conteúdo próprio, não desistirá tão fácil da briga

Corner 6 e 7:

Disney+ transformou o conteúdo da Fox em Star, criou um streaming “adulto” e apostou na fórmula “dividir e conquistar”. No Brasil, criou combos com o Globoplay e o próprio Star+, e esquiva dos golpes dos concorrentes

Round 2

Mesmo dando prejuízo financeiro, a Disney caminha para se igualar, ou até mesmo superar as concorrentes. Isso porque têm feito investimentos maciços em conteúdos para a plataforma, além de fazer aquisições que ampliam seu leque, como os conteúdos da Fox, que se tornaram Star+, e o Hulu, que é um sucesso nos Estados Unidos. Somados, esses três canais já superam a Netflix em assinantes.

ROUND 3: PREÇOS E PROPAGANDAS

R$ 9,90 mês
(plano anual)

R$ 14,16 mês (Plano anual somente com acesso mobile)

R$ 14,90 mês

R$ 14,90 mês
(plano anual)

R$ 18,90 mês
(com anúncios)

R$ 27,90 mês

R$ 32,90 mês

Propaganda é a alma do negócio?

Um dos maiores atrativos dos streamings é a falta de propagandas entre blocos. Mas, com o cenário mais competitivo, incluir publicidade já é uma realidade

Netflix

A Netflix adotou o modelo recentemente, para seu plano mais básico. São anúncios de 15 a 30 segundos exibidos durante a reprodução de conteúdo.

Globoplay

O Globoplay também está adotando a inclusão de anúncios, mas com o apoio de uma tecnologia muito mais interessante: o Pause Ads. Com isso, a propaganda só aparecerá quando o conteúdo for pausado, sem interferir na experiência dos usuários. 

Disponível para destokp, o modelo será ampliado para dispositivos móveis e smart TVs nos próximos meses.

Disney+

O Disney+ também já anunciou a inclusão de propagandas no streaming, mas por enquanto, só nos Estados Unidos.

Round 3

Ninguém está se esforçando como o Globoplay para ganhar essa batalha no Brasil. Com o apoio da gigante Globo por trás, a oportunidade para criar conteúdos é o grande diferencial da brasileira, que pode não ter os números necessários para bater de frente, mas tem o histórico. Entender a audiência brasileira ajuda o streaming a pensar em soluções que atendem melhor os usuários, e a coloca à frente da concorrência.

DESAFIOS E FUTURO

O streaming ainda tem muitos desafios pela frente. No Brasil, deve enfrentar um processo de regulamentação, que já está em vigor em países como França, que tem controle sobre as obras disponíveis na Netflix. 

Além disso, problemas técnicos como falta de legendas na HBO Max, dificuldade para rodar a Apple TV+ em produtos que não sejam Apple, e a falta de navegabilidade do Prime Video podem diminuir a fidelidade dos usuários. 

Outro teste é o da maratona. Embora muitos usuários gostem de sentar no sofá e assistir tudo de uma vez, as produções costumam ter vida mais longa com lançamento semanal. Com exceção da Netflix, todas utilizam o modelo, que funciona.

Melhorar tecnologias

Manter nível de qualidade das produções

Entender formatos de lançamento (de uma vez ou semanalmente)

Evitar debandada por conta de anúncios

O VENCEDOR

Mas vamos ao que interessa: nessa batalha entre streamings, tem um vencedor?

A Netflix foi nocauteada

Star+ precisa da Disney para continuar na disputa

HBO Max tem que “limpar a casa” e resolver suas questões financeiras para voltar ao ring

Prime Video não pode se descuidar e precisa escapar dos golpes

Globoplay e Apple TV+ saem na frente, mas a batalha está só começando

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